De 24 de janeiro até 25 de março, das 10h as 17h, na Oca do Ibirapuera, o Museu Afro fará a exposição “Da Cartografia do Poder aos Itinerários do Saber” gratuita que expõe universo das missões científicas do Império Português.
Da Cartografia do Poder aos Itinerários do Saber
A Oca mostra reflete sobre a construção do conhecimento científico português em relação aos povos e territórios do além-mar, principalmente na África e no Brasil. Para isso, receberá peças raras do acervo da centenária Faculdade de Ciências de Coimbra e de colecionadores particulares.
Segundo o Museu Afro:
“O ponto de partida é a refundação da Universidade de Coimbra, na era do Marquês de Pombal (1699-1782), e a introdução do ensino das ciências na educação superior em Portugal, trazendo esse olhar para a contemporaneidade. Entre as peças e obras expostas, há astrolábios, esferas, lunetas, mapas feitos pelo engenheiro italiano Miguel Ciera no séc. XVIII, cartas geográficas, desenhos, bustos frenológicos, contadores lusíadas (séc. XVI-XVII), olifantes (séc. XV-XVI), fotografias, documentos históricos da Universidade, herbários de Friedrich Welwitsch no séc. XIX e retratos do Marquês de Pombal (por Francisco José Resende, 1882) e de D. Francisco de Lemos (1735-1822), brasileiro que foi bispo e reitor de Coimbra.
Outro núcleo da exposição apresenta o raríssimo acervo de Antropologia do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, destacando-se, entre os objetos etnográficos, 32 tampas de panela do povo Woyo, recolhidas pelos missionários do Espírito Santo, de presença marcante em Angola desde a década de 1860; uma cadeira de espaldar do povo Chowke; uma máscara masculina Nkaki, dos Luluwa; uma estatueta de representação de missionário, do povo Yombe; duas máscaras do povo Songo; e pentes e máscaras Mwana Pwo e Cihongo dos artistas contratados pela companhia Diamang, que trabalhavam numa aldeia situada no complexo do Museu do Dundo, em Angola.
Incorporados à exposição na Oca, artistas contemporâneos atualizam esse universo da “Cartografia do poder”: Albano da Silva Pereira, Albuquerque Mendes, Ana Vieira, André Cepeda, Arthur Omar, Aston, Cristina Ataíde, Debbie Fleming Caffery, Didier Morin, Dominique Wade, Edgar Martins, Gérard Quenum, Gonçalo Pena, Guilherme Mampuya, Joan Fontcuberta, João Fonte Santa, João Pedro Vale, Joel-Peter Witkin, José de Guimarães, José Luís Neto, José Resende, José Rufino, Lygia Pape, Miguel Palma, Nuno Cera, ORLAN, Paul Den Hollander, Sam Durant, Sofia Leitão, Susana Anágua, Tunga e Yonamine.
Viagens científicas
Os laços históricos entre Portugal e Brasil são bastante conhecidos, mas o grande público geralmente desconhece o interesse científico que Portugal, a Metrópole, sustentou em relação às suas colônias, como o Brasil e Angola. O investimento de cunho científico no Ultramar se refletiu numa aquisição por instituições portuguesas, ao longo dos séculos de dominação, de exemplares do reino mineral, vegetal e animal, além de objetos etnográficos, testemunhos da rica história dessas regiões.
Até a primeira metade do século XVIII, as remessas e recolhas desses exemplares estavam relacionadas, sobretudo, aos interesses privados da Coroa portuguesa e da nobreza mais esclarecida. Foi mais especificamente a partir de 1780 que as coleções, frutos de recolhas e aquisições, passaram a ser sistematizadas nos Museus de História Natural de acordo com critérios científicos definidos, em grande parte, por naturalistas estrangeiros que chegavam a Portugal para suprir a falta de profissionais formados em escolas portuguesas.
Dentre os naturalistas tratados na exposição, destaca-se o italiano da cidade de Pádua, Domingos Vandelli (1735-1816), que teve importante papel não apenas como docente na cadeira de História Natural em Coimbra, mas também na incorporação de coleções no próprio Museu de História Natural da Universidade de Coimbra.
O impulso cientificista português iniciado na segunda metade do século XVIII se ampliou no século XIX em território brasileiro, com a vinda da família real para o Brasil e a abertura dos portos, que favoreceu a entrada de naturalistas estrangeiros. Foi nesse contexto que ocorreu a criação, através de um decreto de 1818, do Real Museu no Rio de Janeiro. A criação desse espaço culminou não apenas na intensificação das pesquisas, mas principalmente no estreitamento dos laços entre Brasil e Portugal, na medida em que algumas coleções de Lisboa foram transferidas para o Brasil.
O estudo e a exploração da natureza expandiram-se para o continente africano ao longo do século XIX. Estas expedições com objetivos científicos vão estar presentes na exposição através de herbários do botânico Friedrich Welwitsch em Angola, no ano de 1852, e de parte substancial da coleção do professor Luís Carrisso, recolhida entre 1927 e 1936.
Exposição apresentada inicialmente em Portugal e agora em versão ampliada pelo Museu Afro Brasil, que incorporou objetos valiosos sobre a história de Angola e artistas contemporâneos brasileiros, “Da Cartografia do Poder aos Itinerários do Saber” propicia reflexões sobre a alteridade, o hibridismo, a dominação e o poder, temas inerentes à História da formação do Brasil.
Local: Oca do Ibirapuera
Tel: (11) 3105-6118 e (11) 5082-1777.
Acesso: Av. Pedro Álvares Cabral – Portão 3.