Parque Ibirapuera: parque natural ou parque de diversões?

O debate sobre a concessão do Parque Ibirapuera nos últimos dois anos foi marcado pela contraposição de duas visões inconciliáveis. E não se falou sobre o assunto com a devida clareza. Um “lado” vê o parque como lugar de entretenimento, como um parque de diversões, que deveria estar sempre pronto para oferecer espetáculos, estruturas de divertimento de massa, alimentação, com a consequente necessidade de estacionamento e muitos outros serviços que um parque de diversões requer. O outro “lado” vê o parque por aquilo que ele tem sido de forma natural nas últimas décadas da sua história: uma preciosa área verde, importante para a saúde da população, que, com os seus já existentes museus, convida à imersão na natureza, à contemplação, à cultura e à saudável prática esportiva individual.

Parque Ibirapuera, primavera. Foto: Aldo Nascimento Cruz.

Dada a raridade de áreas verdes desse porte na cidade e os importantes serviços socioambientais que o Parque Ibirapuera oferece, não é difícil entender que a razão está do lado do segundo grupo. E, apesar das promessas – não claramente expressas no plano diretor realizado às pressas para satisfazer uma exigência do MP – de que a preservação do verde e dos seus serviços socioambientais seria uma prioridade da concessão para exploração comercial do parque, na visão da prefeitura predomina a ideia de transformação do Parque Ibirapuera em um parque de diversões.

Não há nada de errado com parques de diversões – a não ser que existam em detrimento do verde e tragam desequilíbrio e degradação ao contexto urbano em que se inserem, congestão do tráfego, barulho; enfim, desordem e grande incômodo à população local. Além do mais, parques de diversões podem ser feitos em áreas não verdes, sem prejudicar a existência de um parque pré-existente.

Domingo no Parque Ibirapuera. Foto: Jorge Araújo/Fotos Públicas.

A necessidade de se gerar lucro com a concessão da totalidade do Parque Ibirapuera a uma única empresa – e não de serviços pontuais a empresas especializadas em cada serviço – deixa claro que a pressão para o transformar em algo parecido com um parque de diversões será enorme. Assim, assistir-se-á à sua gradativa descaracterização, a substituição do seu caráter contemplativo, de oásis natural numa trama urbana via de regra hostil ao devaneio e à saúde física e psicológica da população, em um apêndice da vida barulhenta e histérica das ruas da cidade.

Trata-se de uma visão míope, que tem pouco ou nada a ver com bom planejamento urbano e social, com boa administração, com preservação do meio-ambiente e, sobretudo, com saúde pública. Ao invés de combater a degradação ambiental da cidade com a multiplicação do verde, dos espaços de contemplação e devaneio, a prefeitura põe em grande risco um dos bens mais preciosos da cidade…

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