Passeio com música no parque VII

Na década de 1950, período da criação do Parque Ibirapuera, o choro – ou chorinho -, uma das grandes formas musicais brasileiras, estava mais vivo do que nunca. Como será combinar um passeio no parque com uma série de chorinhos da época? 

Parque Ibirapuera. Foto: Carlos Eduardo Godoy (fonte: EcoViagem).

Ainda que nascido no século XIX e tendo tido inesquecíveis representantes no passado, como Zequinha de Abreu, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, o choro continua sendo, na década de 1950, um dos gêneros mais originais e mais difundidos da música brasileira. Pixinguinha, herdeiro desses compositores e autor de “Carinhoso” (1917) – música que, com a letra de João de Barro, de 1937, tornar-se-ia uma espécie de hino nacional brasileiro não oficial – ainda estava em plena atividade.

Grupo de chorões, Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1916. No centro, em pé, aparece o compositor Sinhô.

O choro, ou chorinho, é fundamentalmente uma forma de tocar música, baseada num ritmo sincopado, que requer uma boa dose de virtuosidade técnica. Quando surgiu nos centros urbanos brasileiros do século XIX, era executado geralmente por um trio formado por flauta – o instrumento solista –, violão e cavaquinho. Com o passar do tempo, essa formação se ampliou e se diversificou. Entraram em cena o cavaquinho, o clarinete, o pandeiro e até mesmo a sanfona.

Grupo contemporâneo de choro Ó do Borogodó – um dos muitos existentes em São Paulo –, formado por violão, cavaquinho, pandeiro e clarinete, que mostra a vitalidade do choro ainda hoje.

No tempo em que Oscar Niemeyer imprimia o ritmo das suas colunas inovadoras no projeto dos prédios do Parque Ibirapuera – e o andamento curvilíneo à marquise que os ligaria – e os tratores e operários ditavam o ritmo da sua construção, a indústria discográfica lançava, repetidamente, em discos de 78 rpm, de 45 rpm (os compactos simples) e, assim que a tecnologia se tornou disponível, os LPs, músicas de uma nova geração de “chorões”. Entre eles, emerge a criatividade e o virtuosismo de Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo e Altamiro Carrilho.

O primeiro, como o próprio nome diz, era um virtuose do bandolim; o segundo, um mago do cavaquinho; e o terceiro, flautista exímio. A esses três compositores e instrumentistas, dedicamos este passeio com música do tempo em que o Parque Ibirapuera foi criado.

Jacob do Bandolim/ Waldir Azevedo, num cartaz do espetáculo “Show Eterno – Waldir Azevedo”, com o Grupo Isto é Nosso (Porto Alegre, 2009)/Altamiro Carrilho na capa de um LP de 1955.

Começaremos com uma série de músicas compostas por Jacob do Bandolim, executadas pelo prórpio. Em seguida, passaremos para o cavaquinho de Waldir Azevedo – e, abrindo uma exceção ao período das composições, incluímos o seu “Brasileirinho”, que é de 1947.

Cabe à música de Altamiro Carrilho concluir a nossa volta no Parque Ibirapuera com músicas do período em que foi criado. Neste caso, introduzimos outros intérpretes e instrumentos, além da própria flauta do compositor. Sivuca toca “Enigmático” no seu acordeão, numa gravação de 1956, e, depois do próprio Altamiro Carrilho interpretar “Beija-flor” (1953), é a vez do grupo contemporâneo Ó de Borogodó tocar “Esquerdinha na gafieira” (1953), com o solo a cargo do clarinete.

Será difícil não dançar ao invés de caminhar ou correr. Bom passeio!

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