Há três anos, a Prefeitura de São Paulo e a Administração do Parque Ibirapuera deram início a um experimento: abrir o parque de madrugada nos fins de semana. Passaram-se três anos. Quais foram os resultados? Vale a pena continuar mantendo-o aberto à noite?Leia o artigo abaixo e diga o que pensa.
Uma rápida pesquisa para verificar quais grandes parques urbanos ao redor do mundo ficam abertos ininterruptamente durante a noite – limitadamente aos fins de semana ou não -, revela que os casos de abertura noturna são, na verdade, bastante raros. Os principais parques centrais de Paris, o Jardin du Luxembourg e o Jardin des Tuilleries, fecham à noite, com horários que variam entre o verão e o inverno. Em outras capitais europeias, como Madri e Londres, ocorre o mesmo: seja o parque do Buen Retiro, seja o famoso Hyde Park fecham à noite, invariavelmente.
O Central Park de Nova York, que é frequentemente citado como modelo de parque e gestão em terras tupiniquins, também fecha para o público à noite, e a sua abertura se limita, por assim dizer, ao horário das 6h da manhã à 1h da noite.
Há algumas exceções. Elas ocorrem nos parques municipais parisienses, que, já há alguns anos, abrem as suas portas também de madrugada, entre sexta-feira e domingo, no período que vai de maio a começo de setembro, grosso modo equivalente ao verão, para oferecer uma alternativa de lazer aos cidadãos que não podem viajar e gozar de férias nesse período. Neste caso, esses jardins, de tamanho pequeno ou médio se comparados com o Parque Ibirapuera, contam com um serviço reforçado de limpeza e com vigilância especial das 20 às 6 horas.
O Parque Ibirapuera deu início, há três anos – provavelmente no rastro da experiência francesa –, à abertura noturna nos fins de semana, ou seja, abertura ininterrupta de sexta a segunda. Para isso, fomentou a existência de uma feirinha na Marquise, que esmoreceu por falta de adesão e de público. Se não, o parque abre diariamente das 5 da manhã à meia-noite, sendo que alguns portões fecham mais cedo.
Ao invés do sucesso de público esperado, o que acontece é que o parque se transforma, durante a abertura noturna, num verdadeiro bordel a céu aberto e terra de ninguém. mantém-se e procura-se incrementar uma iluminação que não consente à flora e à fauna o necessário repouso, podam-se dramaticamente árvores, cortam-se arbustos e vegetação ciliar para “melhorar a segurança”, reduzindo, assim, de forma absurda e desnecessária, o verde do parque, sem, aliás, obter-se o resultado desejado… Com os problemas crônicos de vigilância, devidos, entre outras coisas, ao corte de verbas para esse fim, o Parque Ibirapuera não é o lugar mais seguro para um passeio ou devaneio noturno. A administração não consegue nem oferecer banheiros decentes – em parte, também, por causa das depredações que não é capaz de coibir.
Enfim, baixa adesão de público, falta de segurança, verba exígua, desrespeito da flora e da fauna deveriam ser razões mais do que suficientes para acabar com a abertura noturna nos fins de semana. Se outras cidades muito mais seguras do que São Paulo o fazem, com certeza, há muitas razões para isso. Até mesmo o horário de abertura normal deveria ser revisto e limitado às 23 horas. Aliás, por que será que a Praça Buenos Aires e o Parque da Luz ficam fechados à noite? Como qualquer espaço ou instituição, o Parque Ibirapuera precisa do seu tempo de repouso, em que uma manutenção adequada seja feita. Diante desses e outros fatos, manter a abertura noturna, a essa altura, é pura teimosia. Valeu a tentativa, mas o que não funciona – e, ainda por cima, causa prejuízo – precisa mudar.