Parques, garrafas plásticas, reciclagem…

Diante das sempre mais claras mudanças climáticas em que o homem tem uma boa parcela de culpa, um parque deveria ser uma oportunidade para educar as pessoas ao respeito à natureza. A última coisa que devríamos ver no seu perímetro e arredores são distribidoras automáticas para a venda de refrigerantes em garrafas plásticas ou latinhas. Garrafas essas que vão, depois, se devidamente jogadas nos recipientes para reciclagem, engrossar os já insustentáveis depósitos de materiais não degradáveis, pois sabemos que a reciclagem está infinitamente aquém das porcentagens propagandeadas… Essas garrafas alimentam as montanhas de lixo não biodegradável, acabam nos cursos d’água e/ou são despejadas em alto mar; e, enfim, vão formar as imensas ilhas flutuantes de plástico nos oceanos, causando danos irreparáveis para a fauna marinha. 

No topo da Bear Mountain. Bera Mountain State Park, Estado de New York. Foto: Roberto Carvalho de Magalhães.

Então, quando alguém festeja a chegada, no Parque Ibirapuera, dessas máquinas, escancara-se toda a falta de consciência ecológica de muitos frequentadores, que não sabem separar lazer de consumismo alienado. Antes da sua concessão para empresa com fim de lucro, essas máquinas não exitiam no parque. Sabemos, tambén, que elas são aparentemente úteis em período de pandemia, pois previnem o contato interpessoal e, assim, a potencial transmissão do vírus. Mas não é verdade. Elas estão ali por uma razão pura e simples: lucro. O ônus, obviamente, fica com o meio ambiente. Mas… longe dos olhos, longe do coração. As garrafas são jogadas fora, desaparecem do olhar e é como se o problema não existisse.  

Mas os próprios frequentadores incoscientes ou deliberadamente indiferentes dos parques acabam nos lembrando desse problema de enormes proporções. Deixemos o Parque Ibirapuera e outros parques de São Paulo e brasileiros de lado por um instante. Há alguns dias, fui fazer uma caminhada no lindo Bear Mountain State Park, no estado de Nova Iorque. Ele se encontra ao longo do Hudson River, não muito longe da cidade de Nova Iorque. Como o próprio nome indica, inclui uma montanha, cujo topo é alcansável a pé ou de carro. A montanha se reflete lindamente num lago, ao longo do qual há uma trilha e, de um lado, mesas para piquenique, banheiros, uma loja aberta nas estações mais quentes e… várias máquinas automáticas de distribuição de refrigerantes em lata ou garrafa pet! 

Bear Montain State Park, Estado de New York. Foto: Roberto Carvalho de Magalhães.

Quando cheguei ao topo da montanha, que oferece uma vista de tirar o fôlego do vale do rio Hudson, e me dirigi a um banco artesanal de madeira feito no estilo rústico montanhês, me deparei com outra montanha: um amontoado de garrafas de plástico deixadas embaixo do dito banco. (A palavra “montanha”, aqui, se refere também ao tamanho da ignorância de quem jogou as garrafas no lugar.) Ainda que houvesse outras pessoas na área, eu achava que estava em uma relação sem interferências com a natureza, com o ar, com a intensa luz do sol. Mas as garrafas de plástico roubaram todo o encanto do momento. Ainda bem que, no topo da montanha, havia um cartaz pedindo: “take your trash with you when you leave” (leve seu lixo embora com você). 

Bear Mountain State Park, Estado de New York. Foto: Roberto Carvalho de Magalhães.

Parques não precisam de distribuidores automáticos de refrigerantes. Parques não precisam de junk food servido em pratos de isopor (verdadeiros inimigos do meio ambiente). Eles precisam é de bebedouros limpos e que funcionem bem. Quem quiser convencê-lo do contrário é porque vai lucrar com essas máqinas ou são consumidores alienados. Quem vai a um parque passar algumas horas pode, muito bem, levar a sua água ou bebida de casa, numa garrafa reutilizável. Estará fazendo bem a si e ao meio ambiente. 

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