Retrato, paisagem e natureza-morta são os três gêneros presentes na mostra Guignard – a memória plástica do Brasil moderno, dedicada a Alberto da Veiga Guignard, um dos maiores artistas brasileiros do século XX, que o MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, localizado no Parque Ibirapuera, apresenta de 7 de julho a 11 de setembro, na Grande Sala. Com curadoria de Paulo Sergio Duarte, a exposição visa a revelar, de forma didática para todos os públicos, quem foi o pintor e desenhista conhecido pelas pinturas de paisagens e mostrar o legado e a contribuição para a arte moderna brasileira.
Reconhecido por ser um artista completo por atuar em todos os gêneros da pintura (retrato, autorretrato, paisagem, natureza-morta, de gênero e temática religiosa) e, ainda, por tratar de dois ou mais gêneros na mesma tela, Guignard alcançou a fama por retratar paisagens mineiras, estado que viveu a partir da década de 1940. O curador Paulo Sérgio Duarte elege a originalidade como o principal aspecto da produção do artista, que utilizou o decorativo nas telas que deram formas as obras, além dos tetos, painéis, móveis e objetos que pintou.
Guignard provoca interesse especial em colecionadores e alcança altas cifras no mercado, comparado aos prestigiados Alfredo Volpi e Di Cavalcanti. Um exemplo que está presente na mostra à disposição dos visitantes do MAM, mas foi pouco visto pelo grande púbico, é o painel Paisagem Imaginante, de 1959, um óleo sobre madeira de 160 x 186 cm, que faz parte de coleção particular.
Para criar um diálogo com a produção de Guignard, Felipe Chaimovich, curador do MAM, selecionou 26 obras do acervo do museu, de diferentes artistas e variados suportes, para a mostra Paisagem Opaca, que são exibidas na Sala Paulo Figueiredo pelo mesmo período.
Guignard
O artista nasceu na cidade de Nova Friburgo (RJ), em 1896, com lábio leporino, uma má formação congênita, que o atormentou por toda a vida. Aos 10 anos, ficou órfão de pai e, com o novo casamento da mãe com o barão Friendrich von Schilgen, mudou-se para a Alemanha, o que permitiu formação artística nas academias de Belas Artes de Munique, na Alemanha, e de Florença, na Itália, onde se libertou da rigidez acadêmica e marcou a passagem para o modernismo.
Com a conclusão do aprendizado técnico, voltou para o Brasil em 1929 e deu início a série de trabalhos sobre o Jardim Botânico, onde montou um ateliê, no Rio de Janeiro. Assim, tornou-se um importante nome da década, ao lado de Cândido Portinari, Ismael Nery e Cícero Dias. Além de orientar um grupo em que participavam Iberê Camargo, Vera Mindlin e Alcides da Rocha Miranda; em 1944, recebeu um convite de Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, para instalar um curso de desenho e pintura no recém-criado Instituto de Belas Artes. Apaixonado pela cidade mineira mudou-se para lá e colaborou para a formação de importantes artistas que romperam com a linguagem acadêmica e consolidaram o modernismo nas artes visuais de Minas, onde viveu até a morte, em 1962.
Exposição
Segundo o curador Paulo Sergio Duarte, a exposição no MAM é resultado de uma vasta pesquisa que resulta numa retrospectiva de conjunto de pinturas, desenhos e retratos de Guignard, feitos em diversos suportes como óleo sobre tela, madeira, cartão ou papelão; ponta-seca; carvão sobre papel; bico de pena; grafite sobre papel ou madeira; tinta bistre sobre papel; nanquim e aquarela sobre cartão; além de três fotomontagens.
Os retratos, considerados por críticos como o gênero mais fértil do artista, formam a maior parte da produção e caracterizam-se pela simplificação das fisionomias já que Guignard não se prendia ao realismo fotográfico. As pinturas são de familiares, amigos, intelectuais, artistas e muitos autorretratos, em que ilustra o defeito congênito também em representações de Jesus Cristo. Outra característica desta área é o fundo das telas que não corresponde ao original e sim a uma invenção do artista como em As Gêmeas (1940), tela que retrata irmãs sentadas num sofá, tendo ao fundo a paisagem do bairro carioca de Laranjeiras. “Há muitos trabalhos do gênero que poderíamos abordar, mas os autorretratos, realizados repetidamente, apontam para o lábio leporino que, segundo biógrafos, interferiu decisivamente na existência do artista, particularmente, na vida amorosa”, explica o curador.
No gênero Paisagem, um dos mais reconhecidos do artista, estão em exibição obras famosas como os balões de gás no ar que remetem à infância do pintor – o pai de Guignard nasceu no dia de São João (24 de junho). Encantado pela beleza das cidades históricas de Minas Gerais, como Ouro Preto, Sabará e Mariana, o artista realizou diversos quadros com as paisagens mineiras. “Nesta vertente percebe-se a ligação e a contribuição da pintura oriental, embora ele nunca tenha afirmado esta influência da pintura chinesa. É possível afirmar devido à falta de chão nas telas, pois o solo sempre desaparece e faz objetos como igrejas, casas, edificações e paisagens voarem como se fossem balões”, comenta Paulo Sérgio.
Na parte da natureza-morta, de número reduzido e com caráter fantástico, o artista tornou-se célebre ao pintar alegorias distantes do realismo e com uma paleta mais limpa do que costumava utilizar. Além das telas, nesta parte encontram-se as fotomontagens, os grafites, os trabalhos em ponta seca e em tinta bistre sobre papel. A especificidade do gênero fica por conta da representação de paisagens ao fundo, mistura que Guignard ousava a fazer: os variados vasos de flores são pintados sempre à frente de montanhas, vales, rios e demais ambientações resultando numa obra que alcançou o respeito ao unir dois gêneros: natureza-morta e paisagem.
Serviço:
Guignard – a memória plástica do Brasil moderno
Curadoria: Paulo Sergio Duarte
Local: Grande Sala
Abertura: 7 de julho (terça-feira), a partir das 20h
Visitação: até 11 de setembro
Entrada: R$ 6,00 – gratuita aos domingos
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Endereço: Parque do Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3)
Horários: Terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
Tel.: (11) 5085-1300
Estacionamento no local (Zona Azul: R$5 por 2h)
Acesso para deficientes
Restaurante/café
Ar condicionado