A exposição Vida Livre, do artista plástico paulistano Eduardo Srur, com instalações em vários locais da cidade, tem uma obra no Parque Ibirapuera que não deixa de ser um comentário irônico sobre a infeliz ideia da concessionâria – espera-se definitivamante abandonada – em fazer um aquário com igresso a pagamento, para “entreter” os frequentadores. Uma das ideias mais antiecológias e desuetas que é possível imaginar em um parque hoje em dia. Mas, sabe-se, a mentalidade papa níquel é pouco sensível à preservação do meio ambiente e à proteção dos direitos dos animais.
Muito bem, no âmbito da sua exposição de instalações espalhadas por São Paulo, para o Parque Ibirapuera Eduardo Srur imaginou exatamente um grande aquário. Só que, dentro dele, encontram-se crianças. Sim, crianças aprisionadas na água. Invertendo os papéis, as crianças, que deveriam estar do lado de fora vendo um animal emprisionado, neste caso um urso polar, tornam-se a atração para o urso polar, que está do lado de fora. A inversão suscita angústia e revela, através da crueldade em se manter crianças em cativeiro, a creldade de se aprisionar animais para o entretenimento do público.
Esse mesmo tipo de inversão de papéis, que torna a crueldade do cativeiro explícita, também se vê na instalação colocada no lado de fora do Parque Trianon, na Avenida Paulista, em frente ao MASP. Nela, temos um homem enjauldo, enquanto bugios em liberdade circundam a jaula e o observam com curiosidade. O homem olha para além da jaula e agarra-se a ela num movimento impetuoso de quem está visivelmente perturbado. É fácil se identificar com o homem e sentir a sua aflição – e, assim, por associação, o sofrimento dos animais enjaulados.
Enfim, no Parqe do Povo, o que vemos é uma imensa estrutura criada com mais de mil gaiolas abertas, apreendidas pela polícia numa ação contra o tráfico de animais silvestres. A mensagem é mais otimista do que nas outras duas, mas contém também uma ironia: essa “árvore” de gaiolas vazias tem, como pano de fundo, alguns arranha-céus hermeticamente fechados. Neste caso, as aves foram libertas, mas os prédios engaiolam o ser humano.
As instalações podem ser vistas até dia 2 de junho de 2022. É uma pena que não sejam permanentes, para admoestar contra a crueldade humana com os animais. Ficarão as fotografias e vídeos…