Bem vindo da floresta ao visitante
Não é preciso tirar
o sapato para entrar
não há pedras no meio do caminho
se houver pedras, elas são o caminho
deixe atrás de si o celular
aqui, quem comanda é o ar
o odor das folhas macerando no chão úmido
a aura da resina dos pinheiros
dos cedros
dos bordos
dos carvalhos
e do orvalho
esqueça-se do rádio
aqui, quem toca música
é a límpida água do riacho
percutindo as rochas ao descer a encosta
é a copa das árvores tangida pela brisa
é o pássaro apaixonado
Sentado sob uma árvore
com as costas amparadas no seu tronco
levante o olhar
não é impressionante o céu azul
por detrás das folhas coloridas?
Deixe que a árvore conte
a sua história centenária
de como
na infância
ainda magrela
teve que lutar com gigantes
pelos raios de sol
de como
ao fio dos anos
aves de todos os tipos
adotaram seus ramos como casa
de como
proveu a necessária sombra
para que as samambaias
pudessem existir no sub-bosque
de como
bebeu milhões de litros
de água pluvial
e depois
com suas colegas
a lançou no ar
para que viajasse
e irrigasse outras terras
de como
sobreviveu a vendavais
secas e temporais
aos ataques de insetos e animais
de como
com suas raízes
e guarda-chuva de folhas
trabalhou para impedir
que se dilacerasse o solo
de como
inundou o mundo
com a sua beleza
Escute a sua música silenciosa
(adormeça se quiser)
o crepitar das folhas secas
o sussurro do riacho
o vento a chacoalhar os ramos
o assobio musical dos pássaros
o cri cri dos grilos e das rãs
E volte sempre
Mas lembre-se
deixe seu telefone em casa
aqui, não serve
traga seu lanche
aqui, não há fast food
há uma gentil sinfonia colorida
sob a regência da árvore
de gestação centenária
de incubação milenária
Esse será o seu alimento
– e o seu lenimento
Roberto Carvalho de Magalhães