Uma arvorezinha magrela estava atrapalhando a passagem do carro no caminho entre a casa e a porteira. Vendavais e nevascas fizeram-na inclinar sobre o caminho. Poderíamos tê-la cortado e, assim, eliminado o problema da forma mais fácil. Mas merecia outra chance. Nascera numa pendência do terreno, ao lado da estradinha, e corajosamente foi procurando a luz do sol entre árvores muito maiores. Agora, está lá, com uma muleta que não a deixa cair. Quem sabe, com o tempo, se fortalece e consegue ficar em pé sozinha.
Ela me faz pensar em outras árvores, muito mais antigas e célebres, que usaram muitas muletas nas suas longas vidas e que ainda estão em pé só porque essas muletas se tornaram permanentes e robustas com o tempo. Uma delas é a acácia-bastarda (robinia pseudoacacia) que se encontra ao lado da igreja Saint-Julien-le-Pauvre, em Paris. Levada da América do Norte para a França por Jean Robin, botânico responsável pela criação do Jardin des Plantes (jardim botânico) parisiense em 1635, ela foi plantada em 1601. E continua em pé graças a três muletas feitas de ferro e cimento – elas imitam troncos de árvore e uma delas está coberta por uma trepadeira; assim, ajudam a manter o aspecto natural do conjunto. Que se saiba é a árvore mais antiga da cidade. Foto @The Treeographer
Outra árvore famosa – e muito mais antiga, com seus cerca de mil anos – que ainda resiste graças às muletas é o Carvalho Grande da floresta de Sherwood, no Nottinghamshire (Inglaterra). Aqui, as muletas triplicam em número e se justificam não só pela idade, mas também pelo porte dos galhos e pela devoção à árvore.
Não precisamos atravessar o oceano para ver árvores majestosas – e idosas – que resistem ao tempo e à destruição graças às escoras – que tenho chamado metaforicamente de “muletas”. Existe uma notável em Florianópolis. Trata-se da figueira microcarpa da Praça 15 de Novembro. Seus galhos são tão longos que se tem a impressão que ela cobre toda a praça; e eles também são sustentados por muletas.
Mas memórias menos felizes também emergem. É o caso da triste história da monumental ficus elastica do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Seus galhos longos e grossos ameaçavam a segurança dos frequentadores do parque que transitavam naquela área. E, apesar das muletas para sustentar árvores de tal porte não serem novidade, preferiu-se cortá-la. O parque perdeu, assim, um dos seus monumentos vegetais. (Leia a história aqui)
Agora, voltando à nossa arvorezinha, da qual não sabemos o nome e que nem tem muita história para contar, nos perguntamos: por que só árvores antigas, monumentais e/ou famosas deveriam merecer a nossa atenção e ter o direito de usar muletas? Aqui não tem disso não. Pequena ou grande, nova ou velha, sem ou com muita história, fazem todas parte da família!