Vamos falar sobre o Rio Pinheiros?

O rio Pinheiros é nojento! O rio Pinheiros é um esgoto a céu aberto! O rio Pinheiros fede! Será verdade? Acho que, de um tempo para cá, essas passaram a ser meias verdades. Com o fechamento dos parques no início da pandemia, decidi fazer minha corrida matinal à beira do rio Pinheiros, aqui pertinho de casa, para ver se poderia ser uma alternativa de lazer. Não é que deu muito certo? Não que o rio esteja totalmente limpo, mas está muito melhor do que já esteve e não tem mais aquele cheiro de ovo podre. Nem cheiro tem mais!

Rio Pinheiros, com Ponte Estaiada ao fundo. Foto: Aldo Nascimento Cruz.

Está em andamento o Programa “Novo Rio Pinheiros”, que visa o saneamento, manutenção, revitalização do rio e educação socioambiental. Como parte do programa, vários imóveis estão sendo conectados ao sistema de tratamento de esgotos e já teve início a implantação de unidades de recuperação de qualidade da água. Também está em andamento um amplo programa de desassoreamento, que já retirou toneladas de lixo do rio, como garrafas pet, bicicletas, pneus, plásticos, entre outros.

Com isso, a qualidade da água deve ter melhorado muito, pois pode-se avistar uma avifauna variada. Já fotografei garça branca grande, pequena, garça moura, biguá, quero-quero, frango d’água, lavadeira mascarada, carcará, irerê, sabiá laranjeira, sabiá poca, sabiá do campo, joão de barro, andorinha, pardal, alma de gato, pica-pau do penacho amarelo, socozinho, além das já bem conhecidas inquilinas capivaras. E até vi um lagarto teiú, bem grande, que fugiu para o meio do mato, sem se deixar fotografar.

Aves às margens do Rio Pinheiros. Foto: Aldo Nascimento Cruz.

Avifauna voltando às águas Rio Pinheiros. Foto: Aldo Nascimento Cruz.

Todas essas aves estão sendo atraídas não somente pela melhora da qualidade da água do rio, como também pela vegetação do Parque Burle Marx e pelas muitas árvores, frutíferas e não frutíferas, plantadas ao longo das duas margens.

No entorno do rio, não vivem somente aves.  Nas proximidades da Ponte do Socorro, é comum encontrarmos bois, vacas, cavalos e búfalos. Até porcos e cabritos já vi por aquelas bandas, onde sobrevive um pedaço da São Paulo rural.

Um pouco de vida rural na cidade às margens do rio. Foto: Aldo Nascimento Cruz

Na margem esquerda do rio, que é a margem onde não correm os trens da CPTM, está sendo implantado o “Parque Bruno Covas – Novo Rio Pinheiros”. Já foi concluída uma pista de caminhada/ciclovia no trecho entre a Ponte do Socorro e a Ponte Cidade Jardim, onde pode-se fazer caminhadas e pedalar por mais de 20 km.

Vegetação voltando e ciclovia. Foto: Aldo Nascimento Cruz.

Em terreno vizinho ao Supermercado Extra, está prevista a construção de um espaço com pontos de alimentação, banheiros e novos acessos para interligação com o transporte público.

A margem direita, onde correm os trens da CPTM, passou por melhorias, com instalação de nova sinalização, placas de orientação, guaritas de alvenaria com banheiros e ar-condicionado. O asfalto danificado foi refeito e foram retiradas lombadas, para garantir a acessibilidade de pessoas com deficiência e foram plantadas dezenas de canteiros de maria-sem-vergonha (impatiens), que estão sempre floridos e muito bem cuidados.

Ainda na margem direita, o biólogo Ricardo Cardim, com o patrocínio de uma empresa de telefonia, realizou um projeto de paisagismo, para ajudar na restauração da vegetação nativa original das margens do rio, com o objetivo de recuperar 13 km de margens com elementos da mata ciliar original. Foram utilizadas apenas espécies nativas da Mata Atlântica da cidade, totalizando mais de 1.500 árvores, com ênfase em frutíferas como cambuci, uvaia, cereja brasileira, grumixama, sete capotes, pitangas, araçás e jabuticabeiras. Esse projeto teve início em 2017; e, hoje, já se disfruta de uma pequena mata.

O antigo nome do Rio Pinheiros é Rio Jurubatuba ou “Rio das Palmeira Jerivás” na língua indígena, por causa da antiga abundância de palmeiras em suas margens, que alimentavam esquilos e pássaros, como tucanos de bico verde e papagaios.

Rio Pinheiros e as suas margens. Foto: Aldo Nascimento Cruz.

Com as obras de revitalização do rio, já estão voltando muitos pássaros e já temos uma mancha de mata atlântica formada. Quem sabe um dia poderemos voltar a chamá-lo de Jurubatuba. Eu, que fui uma criança que viu as regatas no rio Tietê, até me entusiasmei pela possibilidade de um dia haver um píer no rio Pinheiros, no final da minha rua, a Bragança Paulista, para, quem sabe, mais adiante, poder fazer pic nic e pescarias às margens do rio – e parar de ter inveja de Paris…

Posts relacionados

A beleza dos parques de São Paulo

Cemitério ou parque? Os dois!

Aquário no Ibirapuera? Nunca se ouviu ideia mais tola…