Cemitério ou parque? Os dois!

Está ficando difícil ter paz nos parques urbanos ao redor do Brasil. A onda selvagem de concessões dos parques para exploração comercial os está descaracterizando. Ao invés da tranquilidade e do contato saudável, sem interferências, com o verde, encontramos cada vez mais “atrações”, barracas de comidas, publicidade e muito, muito barulho. Ao invés de promover o contato com a natureza, estão trazendo o caos da cidade para dentro dos parques. 

Parque do Inirapuera, área de alimentaçã nada discreta, como em um Shopping Center.

Mas há um tipo de parque de que ninguém fala, onde ainda se pode encontrar tranquilidade: os cemitérios. Sim, cemitérios são parques. Os antigos romanos, nos dias livres, iam às catacumbas fazer piqueniques junto à tumba dos seus mortos, para lhes fazer companhia alegramente. 

Antes que os filmes de terror de Hollywood transformassem os cemitérios em lugares tétricos e ameaçadores, eram locais não só de pelegrinagem para se visitar e homenagear os mortos, mas também de caminhadas tranquilas ao longo de suas alamedas com árvores frondosas e de pausa do incessante ruído e confusão das ruas. As “atrações” são os túmulos, alguns sóbrios, outros exagerados, nomes de famílias, datas… Mas nem é preciso observá-los. Pode-se simplesmente caminhar entre as árvores, descobrir flores e ouvir os pássaros – o que está ficando difícil nos parques urbanos com a sua cada vez mais invasiva parafernália comercial barulhenta.

Eis alguns exemplos internacionais de cemitérios que são, também, extraordinariamente belos e excelentes parques: Père Lachaise, em Paris; Mount Auburn, Cambridge, Massachusetts; Cimitero delle Porte Sante, Florença. Árvores monumentais, vistas espetaculares, muita história e… tranquilidade, cantos de pássaros, sombras revigorantes. 

Em São Paulo, também há cemitérios que preservam as características de um parque ou jardim, onde a natureza ainda tem o que dizer e a tranquilidade ainda domina. Um deles é o Cemitério São Paulo, em Pinheiros. Com grande cobertura arbórea, ele se torna um espetáculo na época da floração dos ipês. Para quem se interessa por arte e história, ele também abriga, entre outros, esculturas do artista modernista Victor Brecheret, cujo túmulo também se encontra no cemitério.

Cemitério São Paulo, Pinheiros. Foto: Sonia261 (2016).

Outro cemitério que tem as características de um jardim – e, diga-se, exuberante – é o Cemitério do Redentor. Com entrada situada na esquina da rua Cardeal Arcoverde com a Avenida Dr. Arnaldo, ele não é maior do que um campo de futebol, mas tem uma concentração invejável de plantas e árvores, muita sombra e pássaros que vão visitar as suas manjedouras. Orquídeas aqui não faltam. E bancos com encosto também não! 

Cemitério do Redentor, São Paulo.

Outro cemitério digno de ser chamado de parque é o histórico Cemitério dos Protestantes, mais próximo do Centro, criado em 1844, ao lado do Cemitério da Consolação. Com um arvoredo considerável e inúmeros bancos com encosto – o que falta em muitos parques –, ele foi tombado pelo Condephaat e pelo Conpresp. Aqui, encontra-se, entre outros, o túmulo da grande pintora modernista brasileira Anita Malfatti.

Cemitério dos Protestantes, Consolação. Foto: Daniela Benite (Wikidata).

Enfim, citamos o Cemitério Parqe dos Pinheiros, situado na Zona Norte da Capital Paulista, na Serra da Cantareira (Jaçanã). É o mais recente dessa nossa breve lista, mas não menos atraente. Criado e administrado por uma entidade sem fins lucrativos, ele está rodeado pela Mata Atlântica.

Cemitério Parque dos Pinheiros, Zona Norte. Foto: Funerária Arce.

Além da sua função primária de acolher os mortos, esses e outros cemitérios são lugares para se sentir bem, onde, em meio ao verde e no parcial silêncio que é possível ter em uma cidade grande e frenética, podemos sentar em um banco com tranquilidade, ler um livro ou simplesmente ouvir o canto dos pássaros.

Visto que há cemitérios públicos e privados, antes de visitá-los, consulte seus horários e condições.

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