A grandeza de uma nação também se mede pelo respeito às árvores e aos parques

“A grandeza de uma nação e o seu progresso moral podem ser julgados pela forma como ela trata os seus animais.” (Mahatma Ghandi)

Do mesmo modo, podemos dizer que essa grandeza pode ser medida pela maneira como as árvores e a natureza em geral são tratadas. Perambulando pelo mundo, vemos exemplos de descaso e mesmo menosprezo, assim como de grande respeito. Um caso extraordinário de respeito é o do cipreste de Montezuma de Santa María del Tule, Oaxaca, no México. Para preservar a árvore imensa e milenária, o governo mexicano desviou até mesmo uma rodovia, o Pan-American Highway.

Imagem antiga do cipreste de Montezuma de Santa María del Tule, Oaxaca, México.

 

Imagem antiga do cipreste de Montezuma de Santa María del Tule, Oaxaca, México.

Mas há casos mais simples e não por isso menos indicativos de respeito e civilização, que não requerem medidas excepcionais. É quando uma árvore em uma alameda ou num parque chega a certa idade e seus troncos secundários atingem um tamanho considerável, tornando-se um risco para os transeuntes pelo seu peso e pela possibilidade que quebrem em circunstâncias meteorológicas adversas, que nos encontramos diante do dilema: cortar os galhos – ou até mesmo a árvore –, prejudicando o seu crescimento natural e desenvolvimento, ou fazer algo para que esse desenvolvimento possa conviver com a segurança das pessoas?

É um dilema entre desprezo e respeito. Não só pela árvore, mas também pelos cidadãos, que se beneficiam dos “serviços” das árvores – como, hoje, está na moda chamar os benefícios incontáveis que elas propiciam. A resposta fácil e primitiva é: decepar a árvore. Assunto resolvido. A resposta mais articulada e civilizada é fazer algo para preservá-la plenamente, assim como manter os seus benefícios para a população e a sua beleza.

Uma das formas mais simples e eficazes para se conciliar a segurança do público em praças e parques com o desenvolvimento natural dos troncos e a preservação da planta na sua integridade é o uso de “muletas”. Entre os muito casos à volta do mundo, passeando no parque e nos jardins históricos da Villa la Petraia, em Florença (Itália), residência de verão dos Médicis, deparamo-nos com um carvalho centenário, de galhos muito longos e tortuosos, que pairam ameaçadoramente sobre a cabeça dos passantes. Por si só, a árvore é uma escultura, digna de atenção e respeito, tanto quanto a Vênus do ecultor Giambologna ao centro de uma fonte nas cercanias da mansão.

 

Carvalho secular nos jardins da Villa la Petraia, em Florença, Itália. Foto: Roberto Carvalho de Magalhães, 2017.

Entretanto, os seus galhos mais longos e pesados são amparados por muletas de madeira, impedindo não só que possam cair, mas também que, com o seu peso, se inclinem ao ponto de impedir a passagem das pessoas. Examinando a árvore com atenção, nota-se também que um tubo estreito, quase imperceptível, foi introduzido no tronco principal para recolher e dar vazão à água da chuva que se deposita na concavidade que se forma onde o tronco principal se divide em vários troncos secundários. Dessa forma, impede-se a estagnação da água e o consequente apodrecimento do tronco.

Carvalho secular nos jardins da Villa la Petraia, em Florença, Itália. Foto: Roberto Carvalho de Magalhães, 2017.

Esse carvalho é somente uma das infinitas árvores e plantas objetos de cuidados constantes no parque da Villa la Petraia. E a percepção desse cuidado constante nos faz sentir que estamos num dos berços da civilização, em que humanidade e respeito pela natureza estão intrinsecamente ligados.

Fica a dica para os responsáveis pelas árvores dos parques, praças e logradouros de São Paulo.

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