Na ocasião do lançamento do seu livro Espaços Públicos e Urbanidade em São Paulo, Mauro Calliari nos enviou a seguinte reflexão:
Numa metrópole como São Paulo, a rede de espaços públicos da cidade é fundamental para que as pessoas possam viver suas vidas com qualidade: calçadas, estações de transporte, bancos, árvores, todos esses elementos fazem diferença nos deslocamentos e na fruição das atividades diárias. Se as praças estão inseridas nos bairros e na vida cotidiana, são os parques que proporcionam outra experiência: a possibilidade de ‘sair’ da cidade por algum tempo, relaxar, se exercitar ou apenas sentar com calma embaixo de uma árvore.
Desde o pioneiro Jardim da Luz – o primeiro lugar de lazer programado da cidade, no século XIX –, vários parques foram sendo fundados e adotados pela população. Dentre eles, o Parque do Ibirapuera se destaca. É um exemplo feliz de espaço público bem planejado e bem construído, que toma cada vez mais corpo no imaginário coletivo da população. Em pesquisas com os paulistanos, é constantemente lembrado como o local preferido de lazer da cidade. Em uma matéria do jornal inglês The Guardian, foi colocado entre os dez melhores parques do mundo por oferecer um espaço de qualidade e convivência a uma cidade tão ‘dura’.
No momento em que se discute o sistema de gestão do parque, é bom lembrar do que não pode mudar: o Ibirapuera é parte do imaginário de lazer dos paulistanos e uma experiência sensorial e socialmente estimulante. É, também, um testemunho da história da cidade, ainda que recente, e, por isso, está tombado.
A relação entre o uso e a memória, no meu entender, deveria ser de duas mãos. De um lado, o parque precisa adaptar seus usos ao seu patrimônio, de modo a não colocá-la em risco. De outro, a carga histórica e simbólica também é mutável. O parque não é um museu, é um espaço vivo que merece ser vivido, num convívio respeitoso entre o patrimônio e o uso.”
Sobre o autor: Mauro Calliari, 54, é administrador de empresas e mestre em urbanismo. É autor do blog Caminhadas Urbanas, a “cidade vista por quem anda a pé”, hospedado no Estadão, e do livro Espaços Públicos e Urbanidade em São Paulo (Beĩ Editora), lançado em dezembro de 2016, sobre a conflituosa relação da cidade com seus espaços ao longo da história.
Nota do editor da Revista do Ibirapuera: Sobre o artigo de The Guardian (veja aqui), temos uma leitura distinta em relação ao que o jornalista (não o jornal) deu a esta seleção. Nada mais é do que uma escolha pessoal de áreas verdes distintas e interessantes.