A fotografia dos anos de 1970 que introduz este artigo mostra as enormes poças d’água que se formavam na cidade em dias de forte chuva. Desde então, a situação só piorou e não se contam mais as enchentes, com tantos prejuízos para a cidade e seus cidadãos. O artigo abaixo, da arquiteta da paisagem urbana Riciane Pombo, explica por que e o que se pode fazer para se reduzir o problema, de forma clara e sucinta.
Na cidade de São Paulo, como na maioria das grandes cidades, temos diversos problemas relacionados à questão da drenagem urbana e à poluição das águas, solos e ar. Grande parte desses problemas se devem à má qualidade da estrutura do próprio sistema de drenagem, que não atende ao fluxo e vazão das águas pluviais e esgoto, bem como ao sistema viário e ao histórico de ocupação urbana.
Todos os planos urbanísticos propostos para a metrópole beneficiaram a circulação rodoviária. Progressivamente, os rios e córregos, que já haviam se transformado em meio de transporte de esgoto, foram sendo canalizados, retificados e assoreados de forma que se afastassem da área urbanizada o mais rápido possível, dando lugar a ruas e avenidas. Assim, com o passar dos anos, a população foi perdendo o contato com seus cursos d’água e, hoje, os poucos remanescentes visíveis são poluídos e tidos como obstáculos para o desenvolvimento da cidade. Após um processo gradativo e contínuo de degradação e esquecimento de todo o ecossistema natural da cidade, a sociedade não mais se identifica com seus rios e córregos.
A Infraestrutura Verde, técnica baseada no conceito de Desenvolvimento de Baixo Impacto (Low Impact Development – LID), vem tratando a questão das águas urbanas de uma maneira mais sustentável e eficiente, propiciando melhorias no microclima das cidades. Através da inserção interconectada de tipologias específicas de jardins no meio urbano, o sistema aumenta a permeabilidade do solo e se conecta à rede de drenagem, permitindo o direcionamento, a contenção e a absorção das águas pluviais. Conectado a parques e ruas verdes, este sistema também propicia que as águas cheguem com melhor qualidade à foz, pois as raízes das plantas cumprem o papel de filtragem da poluição difusa arrastada pelas chuvas que lavam as ruas asfaltadas.
Canteiros e lagoas pluviais, alagados construídos, jardins de chuva, biovaletas, e wetlands são alguns dos termos usados para denominar as tipologias de Infraestrutura Verde. A água é meio de conexão entre esses jardins estrategicamente alocados de acordo com estudos precisos e um bom planejamento urbano e geomorfológico. O objetivo da aplicação desta técnica é suprir as funções naturais originalmente desenvolvidas pelo solo, córregos e rios, além de colaborar na recuperação da biodiversidade no meio urbano e (re)conectar a cidade à natureza de forma positiva.