Diante da concessão de parte substancial da área verde do distrito do Parque Ibirapuera por trinta e cinco anos para a exploração comercial, modelo de concessão ao qual éramos terminantemente contrários, o PIC/Parque Ibirapuera Conservação, organização de voluntários que, por vários anos, trabalhou para fomentar melhorias no parque, atuando, quando possível, com as Secretarias da Cultura e do Verde e do Meio Ambiente, perdeu a sua razão de ser como coadjuvante nas soluções para os seus problemas. Foi dissolvido.
Certamente, torcemos para que o Parque do Ibirapuera continue íntegro, bem preservado e, sobretudo, para que seu acesso não seja limitado em modo algum por causa dessa nova gestão e da mercantilização das suas atividades.
Mas a essência do PIC/Parque Ibirapuera Conservação não deixa de existir dentro de cada um de nós. Longe disso. Os amigos do parque voltam a cuidar do parque como faziam nos seus primórdios. Ou seja, ainda que sem uma organização de suporte capaz de angariar recursos e fazer ações, revitalizações e investimentos, mas através de um movimento difuso, sem barreiras, colaborativo quando possível, focado em fiscalizar e cuidar do que é de todos; ao invés de se concentrar exclusivamente nas questões relativas ao Parque do Ibirapuera, volta-se também para uma reflexão mais ampla sobre os parques urbanos de São Paulo e do mundo.
De agora em diante, seja a sua revista online, Revista do Ibirapuera, sejam as suas mídias sociais que precedem a criação do PIC, todos estão livres para discutir sob distintos e independente ângulos os modelos de gestão e relatar histórias de outros parques, tendo sempre como foco a preservação, melhoria e ampliação dos parques urbanos.
A pandemia provocada pelo novo coronavírus veio com uma lição, que não é uma surpresa. Primeiro, demonstra como a destruição do meio ambiente torna as epidemias e pandemias mais possíveis, pois aproxima perigosamente o homem dos animais silvestres, que lhe podem transmitir vírus. Segundo, o necessário isolamento em casa, a desaceleração da produção industrial e a consequente redução da circulação de veículos, especialmente nas grandes cidades, determinou uma diminuição drástica na poluição, mostrando que, de alguma forma, é possível melhorar a qualidade do ar nas cidades. E os parques têm uma enorme importância nisso.
Aliás, foi pensando nisso que muitos parques urbanos públicos foram criados nos Estados Unidos durante a sua primeira revolução industrial: eram uma forma de conjugar natureza e lazer no tempo livre, fomentando a saúde da população.
Certamente, não acreditamos que cada um que participou e contribuiu para a dissolvida associação deixará de observar e analisar também o que acontecerá com o nosso querido Parque do Ibirapuera – que, nunca nos esqueçamos disso, continua sendo um parque público, com livre acesso pela população, a qual deve continuar a exigir que seja bem preservado e que funcione bem e para todos. E tanto menos de identidade, pois ele faz parte do nosso DNA e da nossa história, da qual temos grande orgulho.
Juntos pelo Ibirapuera!