Se alguém se sente mal no Parque Ibirapuera e precisa de atendimento de emergência, o que acontece? Quais são os dispositivos colocados à disposição dos frequentadores em caso de necessidade? Funcionam? O que precisa melhorar? E quem vai se encarregar disso?
Nestes dias, recebemos uma carta de Gustavo Janot, médico e frequentador do Parque Ibirapuera, que vale a pena reproduzir aqui. Como se sabe, está em andamento o processo de consultas e projetos para a concessão da administração do parque ao setor privado. A nossa esperança é que se decida por uma parceria com organizações da sociedade civil sem fim de lucro e não pela simples concessão com fim de lucro. A parceria com uma organização da sociedade civil é o que garantiria, ao nosso ver, o interesse público e as reais melhorias no Parque Ibirapuera, assim como em outros.
A carta do Sr. Janot vem nos lembrar exatamente isso: a importância da sensibilidade para as necessidades dos frequentadores do parque, que não deveriam ser considerados simplesmente uma potencial fonte de lucro, mas deveriam estar no centro do planejamento administrativo.
Abaixo, reproduzimos a carta, esperando que as suas sugestões sejam acolhidas nas discussões sobre o futuro do Parque Ibirapuera.
“Prezado Sr(a)
Sou médico e frequento o Parque Ibirapuera para prática de exercícios físicos três vezes por semana. Sou um fã do parque e gostaria que fosse o melhor parque do mundo, por isso encaminho as sugestões abaixo!
Na última terça-feira, 30 de janeiro, ajudei a prestar socorro a um frequentador do parque, que apresentava quadro de dor precordial com irradiação para o dorso e membro superior esquerdo durante a prática de corrida, acompanhado de mal estar, sensação de desmaio e náuseas. Acionamos o SAMU, que formalizou o pedido de socorro sem, porém, dar nenhuma previsão para o horário do atendimento. Solicitamos apoio aos funcionários do Parque, que, apesar de serem bastante solícitos, não sabiam de nenhuma recomendação de suporte de emergência a frequentadores do Parque Ibirapuera. Também não souberam comunicar com a Guarda Metropolitana. Finalmente, a irmã do frequentador que necessitou de ajuda chegou ao local e, com seu próprio carro, o transportou para o pronto atendimento mais próximo – Unidade Einstein Ibirapuera. Liguei de volta ao SAMU e cancelei o chamado, após mais de 40 minutos da primeira solicitação – e, ainda para minha surpresa, sem previsão para a realização do atendimento.
Felizmente, o paciente chegou bem ao PA, foi transferido à Unidade Morumbi e submetido a cateterismo de emergência e implantação de stent com sucesso.
Apesar do êxito do caso, temos inúmeras oportunidades de melhoria como: treinamento de funcionários para orientação de atendimento de emergência a frequentadores do parque; melhora na comunicação entre funcionários do parque, para que haja maior agilidade no atendimento de urgência/emergência e consciência situacional; comunicação mais eficiente com atendimento de emergência SAMU; divulgação aos frequentadores sobre orientações de emergência, telefones úteis e unidades de apoio de saúde do parque; disponibilização de desfibriladores em locais definidos e monitorados para atendimentos de emergência; formação de parcerias com hospitais públicos ou privados, para se otimizar o atendimento de urgência/emergência.
Tenho certeza que o Parque Ibirapuera pode melhorar e se tornar um ambiente mais seguro para seus frequentadores. Conto com a atenção de seus administradores.
Atenciosamente,
Gustavo Janot”
(Carta enviada ao Parque Ibirapuera Conservação via e-mail em 6 de fevereiro de 2018.)