Para preservar, é preciso conhecer

O patrimônio de um parque não se limita a edifícios, monumentos e fontes, mas abrange o desenho da paisagem e a própria vegetação que a constitui. Podemos dizer que, em muitos casos, esse patrimônio também inclui a fauna que no parque vive.

Parque Ibirapuera. Foto: Arquivo PIC.

O Parque Ibirapuera tem uma história relativamente recente. A sua importância para o patrimônio cultural e artístico brasileiro não reside tanto na sua antiguidade quanto na sua importância para a história recente de São Paulo,  para a história do urbanismo e da arquitetura brasileira do século vinte e para a formação da identidade dos paulistanos. Temos parques muito mais antigos na cidade, que se referem a outros momentos históricos, como o Parque da Luz, o Parque da Independência e até mesmo o Trianon (Parque Siqueira Campos), com as espécies sobreviventes da mata atlântica.

Mas há parques e jardins públicos ainda mais antigos Brasil afora. O Passeio Público do Rio de Janeiro, onde personagens da literatura do século XIX costumavam “passear”, é um entre outros exemplos.

Franz Josef Fruhbeck, Passeio Público do Rio de Janeiro, cerca de 1817-1818, em “Iconografia do Rio de Janeiro (1530–1890)”, vol. II, p. 7.

O patrimônio de praças, jardins e parques no Brasil é grande – assim como é grande a falta de obras que os documentem detalhadamente e indiquem usos compatíveis com a sua boa preservação.  Não são somente os museus fechados a proporcionar a viagem no tempo que nos faz mais conscientes da história e nos transporta para outras dimensões, tornando-nos mais conscientes do nosso próprio presente. Jardins, parques e praças o fazem maravilhosamente bem, com a vantagem de fornecer também um saudável contato com a natureza.

Recentemente, esse patrimônio tão importante quanto pouco pesquisado foi objeto de estudo cuidadoso de Cristiane Maria Magalhães e da sua tese de doutorado em História pela Universidade Estadual de Campinas/Unicamp: O Desenho da História no Traço da Paisagem: patrimônio paisagístico e jardins históricos no Brasil – memória, inventário e salvaguarda (2015).

  • A sua tese pode ser consultada e baixada aqui.

Parque Municipal de Belo Horizonte. Foto: Cristiane Magalhães.

Cristiane Magalhães reconstrói, analisa a história e compõe um extenso inventário dos jardins no Brasil, limitando-se, porém, aos bens já tombados pelos órgãos de proteção federal, estaduais e municipais. Mas esse é somente o ponto de partida. Em seguida, a historiadora criou um site para divulgar esse trabalho e, usando os instrumentos colocados à disposição pelo Google, criou um mapa interativo onde, aos jardins, parques, praças de interesse histórico e paisagístico inventariados e analisados na tese, acrescentam-se muitos outros ainda não presentes nas listas de tombamento governamentais.

Voltando ao ponto inicial, essa preciosa iniciativa de Cristiane Magalhães é um passo importante no reconhecimento, na documentação e na difusão dos jardins históricos brasileiros – dos quais o Parque Ibirapuera faz parte – e contribuem com a criação de uma base sólida para a sua preservação.

Jardim não é somente lugar de lazer descomprometido. É também lugar onde – através da forma, de monumentos e da vegetação – podemos contemplar a história e a nossa própria identidade.

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