Nos anos de 1950, quando o Parque Ibirapuera nasceu, a rádio brasileira estava povoada de grandes e amadas vozes femininas. Que tal revivermos um pouco aquela época com duas delas, durante um passeio no parque?
Parque Ibirapuera, 25 de Janeiro de 2016. Foto: Cassia Machado.
Entre as cantoras que agitaram os corações dos brasileiros na década de 1950, estão Dolores Duran e Maysa. Não só tinham vozes extraordinárias, mas eram também compositoras. E, além de terem em comum o samba-canção e o gênero musical “dor de cotovelo”, ambas tiveram uma vida marcada pelas tragédias pessoais e pela brevidade.
A vida de Dolores Duran duraria somente 29 anos e a sua carreira, não mais do que quinze. É difícil imaginar como em tão pouco tempo ela pudesse criar algumas das canções mais marcantes da música popular brasileira, aprender sozinha a cantar em perfeitos inglês e francês e se apresentar nos teatros do mundo todo.
Nascida numa família muito pobre do Rio de Janeiro, se projeta aos doze anos, quando vence um programa de calouros de Ary Barroso. Daí para a frente, participando de outros programas e, mais tarde, cantando nas boates cariocas, especialmente no bairro boêmio da Lapa, a sua ascensão é irrefreável. Frequentemente elogiada por jornalistas, acaba sendo contratada pela Rádio Nacional.
Dolores Duran em duas fotografias da década de 1950.
No plano pessoal, porém, Dolores Duran colecionava relações amorosas mal sucedidas, um casamento desastroso e problemas sérios de saúde. Em 1955, com apenas 25 anos, sofre um infarto e, quatro anos mais tarde, é acometida por outro infarto, desta vez fulminante, provavelmente causado por uma overdose de barbitúricos combinados com álcool. É encontrada sem vida no seu apartamento.
Entre as músicas que compôs, estão A noite do meu bem, Castigo e Fim de caso. Foram muitas, também, as canções escritas em parceria, como Estrada do sol e Por causa de você (com Tom Jobim) e Olhe o tempo passando (com Édson Borges).
Ao contrário de Dolores Duran, Maysa vinha de uma família abastada do Espírito Santo. Era neta do Barão de Monjardim e tinha estudado nas melhores escolas de São Paulo. Sobre o seu lugar de nascimento paira um mistério: algumas fontes dizem que nascera em São Paulo; outras, no Rio de Janeiro.
Duas fotos de Maysa da década de 1950.
Já compunha canções aos doze anos e, aos dezoito, casa-se com André Matarazzo Filho – descendente do Conde Francesco Matarazzo, criador das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo –, do qual teria um filho e se desquitaria em 1957.
Maysa abraça a carreira de cantora e deixa o filho aos cuidados do pai. Daí para a frente, a sua trajetória se parece com a de Dolores Duran: sucesso nacional e internacional, várias relações amorosas tempestuosas e mal sucedidas. Em 1972, com depressão, passa a viver isolada na cidade praiana de Maricá, próxima a Niterói e, em janeiro de 1977, morre tragicamente num acidente de carro na ponte Rio-Niterói, aos quarenta anos.
Maysa compôs trinta canções, entre as quais Ouça, Meu mundo caiu e Felicidade infeliz. Além das próprias músicas, interpretou canções da parceria Tom Jobim/Vinícius de Moraes, de Adoniran Barbosa e da própria Dolores Duran, entre outros.
Capas dos discos Dolores Duran com Orquestra, de 1955, e Convite para ouvir Maysa n.º 2, de 1958.
Estas duas vozes únicas, tão presentes nas rádios na década de 1950, anos da criação do Parque Ibirapuera, guiarão o nosso passeio. Na seleção que propomos aqui, ambas cantam canções de autoria própria ou de outros compositores, mas sempre da década de 1950.
Eis a playlist.
Entre as canções cantadas por Dolores Duran, incluímos duas grandes interpretações em inglês: Only You e My Funny Valentine. Resta-nos perguntar: qual seria o lugar melhor do parque para apreciá-las plenamente? Qual a sua resposta? Bom passeio no Parque Ibirapuera com Dolores Duran e Maysa!
