A recente inauguração do Parque Augusta, em São Paulo, revelou uma pintura, felizmente preservada, numa das paredes da Casa das Araras. Trata-se de um tamanduá. Realizado em preto e branco, o animal está deitado de costas e não se sabe se está com alguma dificuldade ou se está simplesmente esfregando as costas no chão, para se coçar. A imagem é intrigante e, em uma de suas “Stories”, o UOL mostra uma fotografia do mural com o seguinte texto: “feito por um artista anônimo e em data desconhecida, esse grafite foi mantido na Casa das Araras”.
Desvendamos o mistério. Não é obra anônima e sim do artista muralista belga ROA. Em algum momento, ROA, que tem murais espalhados pelo mundo todo, esteve em São Paulo e deixou a sua marca no que se transformou no Parque Augusta e em outras partes da cidade.
Nascido em 1976, em Gent, o muralista é atraído pela fauna local do lugar onde se encontra no momento e parece expressar, nas suas obras, a dificuldade desses animais nos meios urbanos, especialmente em áreas de degradação ambiental. O suporte para os seus murais são, frequentemente, paredes de edifícios abandonados e degradados; mas seus animais também encontram espaço em edifícios ainda em uso. Os seus roedores de todos os tipos e aves, em situação de alerta, depauperados ou até mesmo mortos, habitam ruínas urbanas em todos os continentes, de Bruxelas a Londres, de Nova Iorque a localidades africanas, do México a… São Paulo. Na capital paulista, a sua estada ocorreu antes de outubro de 2013, data das fotografias dos seus murais realizados na cidade, no site www.ekosystem.org, dedicado a street artists no mundo.
Evidentemente, o tamanduá da Casa das Araras foi realizado quando o terreno que acabaria se tornando o Parque Augusta estava em estado de abandono, “esquecido” pelos proprietários e pela administração municipal. Agora, o tamanduá do ROA, que existia numa espécie de clandestinidade – como acontece com os animais silvestres nas cidades –, vai poder “viver” sem percalços, sem medo que destruam o seu habitat…