Em um dia útil, de manhã cedo… no Parque Ibirapuera

Em um dia útil, cedo pela manhã – e  não em um fim de semana de aglomeração e confusão –, uma senhora de oitenta anos foi violentamente atropelada por um ciclista em alta velocidade no Parque Ibirapuera. Aconteceu em 3 de fevereiro deste ano. Trata-se da Sra. Hilda Mencaci, frequentadora assídua do parque, que nele caminha todas os dias, às seis horas da manhã. Esse triste episódio foi a concretização de uma tragédia anunciada, pois o convívio entre pedestres e ciclistas, no Parque Ibirapuera, é muito ruim, sobretudo por causa do desrespeito, por parte de muitos ciclistas, das normas de uso do parque com bicicletas.

O regulamento do Parque Ibirapuera limita a velocidade de qualquer meio de transporte a 20 km/h, estabelecendo que, em caso de grande frequência, essa velocidade deve ser ainda mais reduzida. Não só. Segundo o regulamento, o uso de bicicletas deve ocorrer exclusivamente nas ciclofaixas e a caminho das mesmas, sendo que, em outras áreas, a bicicleta deve ser empurrada com as mãos. Os ciclistas não somente ignoram essa norma básica, como também usam a pista de cooper como se fosse uma trilha de mountain bike.

Exemplo de ciclista fora da ciclofaixa, mesmo que ela esteja vazia…

Além disso, o regulamento estabelece que os pedestres têm precedência em todo o parque sobre qualquer veículo, o que, mesmo com grande irritação dos ciclistas, significa que quem pedala deve diminuir a marcha ou parar se houver pessoas na ciclofaixa. A ciclofaixa é o limite onde as bicicletas devem ficar, mas não exclui a presença eventual de pedestres – por exemplo, crianças que fogem ao controle dos pais e a invadem repentinamente.

Flagrande de ciclistas pedalando em áreas onde, segundo o regulamento do Parque Ibirapuera, não deveriam estar. Infelizmente, essa é uma cena muito comum no dia a dia do parque.

Enfim, o Parque Ibirapuera não é um velódromo, um lugar de treinos para ciclistas e muito menos uma pista de mountain bike. O descaso com esses princípios básicos – e a incapacidade ou pouca vontade da administração do parque de os impôr – levou ao acidente da Sra. Hilda.

Depois de muitos meses, é com alegria que informamos que a Sra. Hilda está bem. Porém, a sua recuperação foi difícil e longa. Reproduzimos aqui a mensagem que Carlos Henrique Mencaci gentilmente nos enviou sobre a situação da sua mãe:

A imobilização geral de dois meses devido à quebra da bacia provocou perda de massa muscular nas pernas e a deixou mais fraca. Completa 81 anos dia 29 próximo, e reclama que não ficou a ‘mesma’. Teve episódios fortes de labirintite que deve estar associada ao tranco na cabeça da aterrissagem após arremesso no atropelamento pelo ciclista médico voador. Mais dois meses sem conseguir andar. Recuperou-se bem da cirurgia do cotovelo, inclusive a força no braço.

Hoje está bem, após muita fisioterapia, força de vontade, quase num desespero inconformado de voltar a ‘viver’, de sair da cama, depois da casa, de dirigir, retomar a independência. Anda no Ibira diariamente às 06:00 da manhã com meu pai, 89 anos, apavora-se com inúmeros riscos de trombadas, seja com bikes, skates e até corredores fortes e velozes, todos passando muito perto das pessoas e justamente de quem já sentiu a dor e resultado de um atropelamento!

Os parques tornaram-se pequenos para o tamanho da cidade. As regras ultrapassadas.

E a educação, bom, essa piora ano a ano, muitos brasileiros não enxergam os próximos, preocupação nula com a vez e direitos dos outros. Toma-se os exemplos de correr de bike num parque ao lado de pessoas, de conversar alto em um ambiente público, ou furar fila em tudo. Por que nos tornamos assim? Será que em algum futuro o brasileiro retoma a consciência do direito dos outros e passa a exigir o seu nas atitudes de todos e dos governantes?

Abraço,

Carlos Henrique Mencaci”   (E-mail de 16/11/2016)

O que fazer para evitar mais acidentes entre pedestres e ciclistas no Parque Ibirapuera?

Em primeiro lugar, os ciclistas precisam começar a respeitar o regulamento e entender que o parque não é uma pista de treinos. Para isso, é preciso que a administração demonstre ter um mínimo de responsabilidade, faça com que o regulamento seja aplicado e deixe claro que os pedestres têm precedência sobre os veículos de qualquer tipo – bicicleta, skate, patins – e mesmo o direito de invadir a ciclofaixa repentinamente num momento de distração. Estamos num parque, não nas ruas infernais da cidade; estamos num lugar de devaneio e bem estar onde os pedestres não deveriam precisar ter o mesmo tipo de atenção e medo que o trânsito hostil lhes impõe nas avenidas de grande tráfego. Enfim, não seria uma má ideia colocar, ao longo da ciclofaixa, obstáculos em grande número que obriguem os ciclistas a reduzir a velocidade de qualquer forma, quer queiram, quer não.

A nossa felicidade pela boa recuperação da Sra. Hilda não nos impede de temer e prever que outros acidentes graves possam ocorrer no Parque Ibirapuera, se medidas drásticas não forem tomadas em breve. Infelizmente, não podemos confiar no bom senso das pessoas.

Os dois vídeos abaixo são exemplos, provavelmente involuntários, de como os ciclistas ignoram completamente o regulamento do parque e colocam a incolumidade dos seus frequentadores em risco constantemente.

  • Exemplo de alta velocidade e de ciclista que sai sistematicamente da ciclofaixa para não ter que reduzir a marcha: 

  • Exemplo de ciclista fora da ciclofaixa, usando a pista de cooper como circuito de mountain bike e pedalando em outras áreas onde pedalar não é permitido por regulamento:

Na falta de educação e bom senso, a fim de que as coisas funcionem para todos e não para uns em detrimento dos outros, precisamos de regras muito claras e a determinação em fazer com que sejam respeitadas.

Para concluir, madamos um abraço carinhoso e, ainda que com atraso, um Feliz Aniversário para a Sra. Hilda!

  • Veja o artigo que publicamos em fevereiro, logo após o atropelamento:

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