O Parque Ibirapuera tem muitas árvores que merecem a definição de “escultura”. Leia o artigo e descubra uma delas.
Quando nos sentamos no gramado para assistir a um concerto no Auditório Niemeyer, o que captura a nossa visão são: 1) a fachada branca e retangular do prédio; 2) o grande palco aberto para fora; e 3) logicamente, o movimento dos músicos. Nesse momento, voltamos as costas para outro espetáculo que se desenrola no local. Se, idealmente, invertemos a perspectiva por um instante e nos colocamos dentro do auditório, olhando através da imensa janela que o palco aberto é, vemos um grupo de árvores, entre as quais reina uma majestosa falsa-seringueira. Ela é o outro espetáculo, com o seu porte e as suas raízes tentaculares.
Características da falsa-seringueira
Nome popular da árvore ficus elastica, a falsa-seringueira é originária das áreas tropicais asiáticas. Conforme notícia publicada no site da Câmara dos Deputados, ela também é chamada de ficus italiano “devido ao fato das primeiras mudas a chegarem no país terem sido trazidas da Itália, onde a espécie era muito usada em vasos, para a decoração de interiores”. O uso da falsa-seringueira, no Brasil, se difundiu muito nos anos de 1960 e não é raro ver árvores dessas com mais de meio século em praças e parques brasileiros. As falsas-seringueiras do Parque Ibirapuera estão entre as mais antigas da cidade e do país.
Uma das suas características marcantes são as numerosas raízes aéreas tubulares, muito fortes, que podem se fixar ao solo e dar origem a troncos auxiliares, que, por sua vez, ajudam a suportar os pesados troncos da árvore e contribuem para o alargamento da copa. Isso cria um enredo espesso, parecido com uma cortina, que também se alastra no chão, ao redor da árvore. A copa exuberante da falsa-seringueira fornece muita sombra e frescor nos dias quentes do verão.
A falsa-seringueira é uma escultura…
Essa e muitas outras árvores do Parque Ibirapuera merecem, sem dúvida, a definição de escultura. Certamente, não esculturas no mesmo sentido do Laocoonte de bronze – do qual falamos pouco tempo atrás. O Laocoonte tem uma lógica humana e, de certo modo, uma forma fixa. A falsa-seringueira tem uma lógica natural e a sua forma se transforma com o tempo. Nem por isso é menos escultura. Mas ambos têm algo em comum. Seja o grupo escultórico do Laocoonte, seja a falsa-seringueira têm a forma de um emaranhado. Ambos também contam uma história. O primeiro, com o seu enredamento de pernas, braços e cobras, conta uma lenda sobre a credulidade e o medo de ser enganado do ser humano; a falsa-seringueira conta uma história natural, que se faz na relação do clima com a terra, e traduz, na sua estrutura, o processo extremamente rico e inventivo de criação da própria natureza.
…mas é também arquitetura
Aliás, a falsa-seringueira, na Índia, chega a ser até mesmo arquitetura. Neste caso, a natureza conta com a ajuda do homem – e vice-versa. No estado indiano de Meghalaya, desde tempos muito remotos, os habitantes fazem as raízes aéreas da falsa-seringueira, se localizada à beira de um rio, crescerem através de um longo tronco de palmeira colocado de uma margem à outra. Quando as raízes atingem o outro lado e se fixam no solo, outros materias naturais são acrescentados e forma-se, assim, uma ponte. O processo leva cerca de quinze anos e, em condições favoráveis, uma ponte dessas pode durar muitos séculos.
Quando forem, portanto, ao Parque do Ibirapuera ver um espetáculo no Auditório Niemeyer, não percam o show que é a falsa-seringueira que se encontra bem ali em frente… Ainda que não seja o único exemplar do parque e que muitas outras, tão surpreendentes quanto esta, se encontrem em outros parques e praças da cidade.
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