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Falta de lixeira ou falta de educação?

por Roberto Carvalho de Magalhães

Lixo é um problema enorme em todo o mundo. Mesmo com a reciclagem rigorosa realizada em muitos países, principalmente europeus, o lixo está tomando conta do planeta. Um dos problemas maiores, mas somente um de uma lista muito longa, é o plástico não biodegradável: garrafas plásticas de refrigerantes, água mineral, detergentes; sacos plásticos de supermercados e infinitos tipos de embalagem; o plástico que reveste todo tipo de produtos eletrônicos…

O problema já é grande quando se joga plástico no lixo comum: onde armazená-lo? Criam-se aterros de lixo a perder de vista – e esses aterros contribuem para a proliferação de ratos e doenças, dispersando bactérias e vírus no meio ambiente, para não falar nos vazamentos de todos os tipos de substâncias poluentes e danosas para a saúde nos terrenos em que se encontram e na contaminação do lençol freático. É algo que não vemos, mas que acontece.

Agora, há algo que é bem visível: o lixo nas ruas e parques de São Paulo e as suas consequências. Um artigo recente no site São Paulo Antiga, O império do lixo, levanta exatamente esse problema, em vários bairros, assim como no centro da cidade: montanhas de lixo pelas esquinas e lixo espalhado pelas ruas. Esse acúmulo, além de ser desagradável ao olhar, causa muitos transtornos e grandes problemas. Um deles são as enchentes, pois o lixo arrastado pela água entope os bueiros. Nem falemos na contribuição para a proliferação de insetos e doenças.

Praça Júlio Mesquita, Centro. Foto: Douglas Nascimento.

O artigo aponta como causa a coleta insuficiente e o desrespeito dos horários estabelecidos para os moradores colocarem o lixo na calçada. Mas e nos parques? Neste caso, não se trata do lixo de casa e de horários estabelecidos, mas sim de garrafas PET, tocos de cigarro, embalagens de bala e chocolate e restos de piqueniques… Mesmo com lixeiras a pouca distância, muitas pessoas abandonam o lixo no chão. Por quê? Responder com o usual “porque são porcos”, não esclarece nada. É somente a expressão compreensível de raiva de quem justamente gostaria de ver os parques respeitados.

Parque Ibirapuera: lixo abandonado no gramado mesmo a pouquíssima distância de uma lixeira. Foto: Eduardo Sales (Duda).

A resposta é: falta consciência, educação ambiental, que, se não é ensinada em casa por vários motivos socioculturais – um deles é que os próprios pais não tiveram esse tipo de preparação e não percebem a sua necessidade –, deveria constituir uma disciplina seja na rede pública, seja na rede privada de ensino, com a duração de vários anos; deveria ser objeto de oficinas nas escolas e ações de campo – como mutirões de limpeza de parques, praças, beiras de rios. Por quê? Porque, simplesmente, é uma das emergências do nosso tempo, que já está comprometendo o nosso futuro.

Muita gente mal sabe que um gesto aparentemente inofensivo de jogar uma garrafinha plástica ou uma embalagem no chão pode, por exemplo, ser letal para um animal. No Parque Ibirapuera, casos de aves que ingerem plástico ou ficam presas a peças de plástico, como lacres de garrafa, são numerosos. Peixes do lago morrem com a ingestão de lixo. Esse lixo, se não diretamente jogado no lago, vai parar na água arrastado pelas chuvas. O Parque Ibirapuera é um microcosmo, mas essa situação se repete em outros parques urbanos, em praias, ao longo dos rios, lagos, tornando-os perigosos para a fauna que deles depende. Os oceanos estão sofrendo muito com isso.

Parque Ibirapuera: ave com um lacre de garrafa plástica preso entre o bico e o pescoço (esquerda), foto: Annie Ternel; lixo ao longo do lago (direita), foto: PIC.

O Parque Ibirapuera tem equipe de limpeza, mas, especialmente nos fins de semana, quando a frequência aumenta desmedidamente, a situação se torna muito crítica. Não há equipe de limpeza que dê conta de uma grande multidão jogando lixo em todos os cantos. E, francamente, uma equipe de limpeza não deveria ser monopolizada pela displicência das pessoas que, com um gesto muito simples, poderiam depositar o seu lixo nas lixeiras e, na ausência delas, carregar o lixo consigo até achar uma.

Convém lembrar que uma garrafa PET, além dos riscos que podem representar para a fauna se largada no ambiente, leva cerca de 400 anos para se desintegrar. Esses e tantos outros fatos deveriam, realmente, ser ensinados com rigor e insistência. Enquanto não vemos um verdadeiro curso sobre preservação e proteção do meio ambiente entrar no currículo escolar como matéria fundamental, por que a Prefeitura de São Paulo e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente não lançam uma campanha contundente sobre a questão, para ser veiculada em todos os meios de comunicação por um longo período?

Sim, as coisas a serem feitas são muitas, sabemos disso. Mas uma nova campanha bem feita, capilar e de longa duração sobre lixo só pode trazer bons resultados e prevenir problemas ainda maiores.

Leia o artigo O império do lixo.

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