Cada vez mais, mais cidades no mundo estendem a proibição de fumar a parques e até mesmo a praias. Por quê? E por que deveríamos considerar seriamente a possibilidade de proibir o fumo no Parque Ibirapuera?
A proposta de proibir que se fume – ou de se criar uma regulamentação mais severa do fumo – no Parque Ibirapuera, recentemente lançada no portal e na página Facebook do Parque Ibirapuera Conservação, teve reações predominantemente positivas, mesmo por parte de fumantes. Era de se esperar, porém, que houvesse algumas reações negativas, sobretudo de quem ignora – ou faz de conta ignorar – os malefícios do fumo para si próprio e, através do fumo passivo, para os outros. Digamos desde já: sim, o fumo passivo ocorre também ao ar livre.
Uma das objeções que se faz à proibição é que seria preciso conscientizar e educar – e não proibir. Quanto à conscientização e à educação, não há como discordar. Só que conscientização e educação são processos extremamente lentos, podem levar de duas a três gerações para serem efetivos. E, enquanto isso, devemos ignorar a saúde pública e assistir à destruição dos parques e do meioambiente? Assim, quando as pessoas atingirem a cosciência e a educação, não haverá mais nada a ser preservado? E, por duas ou três gerações, as pessoas conscientes e educadas devem comprometer a própria saúde e bem-estar por causa da falta de consciência e de educação dos outros? É aqui que entra a proibição, que tem, também, um valor educativo, pois as pessoas se adequam a ela a curto, médio e longo prazo e acabam se dando conta dos seus benefícios.
A proibição de fumar em parques não é nova e o exemplo dado, há algum tempo atrás, dos parques municipais de Nova York está longe de ser o único. (Veja o artigo aqui: http://parqueibirapuera.org/cheire-flores-nao-fumaca/) Nos Estados Unidos, muitas cidades já adotaram essas restrições. Algumas estenderam a proibição de fumar até mesmo às praias da própria jurisdição. Mas a tendência não se limita aos Estados Unidos.
Na Austrália, no estado de Novo Gales do Sul, uma lei de 2000 já tinha banido o fumo em alguns lugares abertos, como dentro e nas vizinhanças dos parques infantis, nas piscinas públicas, campos esportivos, paradas de ônibus, numa área de quatro metros das entradas de edifícios públicos.
Em 2004, o Município de Mosman, na área metropolitana de Sidney, ia ainda mais longe, proibindo o fumo em praias, nas áreas abertas de restaurantes e nas áreas litorâneas de proteção ambiental.
Em 2007, esse mesmo município estendia a proibição de fumar aos parques e praças públicas em geral, paradas de ônibus e até mesmo em estacionamentos. Enfim, a proibição de fumar foi estendida a todo o estado, mesmo nas áreas ao ar livre de restaurantes, em 2015.
Em Sidney, é proibido fumar, entre outros lugares, no campus da Universidade de New South Wales, no da University of Western Sidney e na famosa praia de Bondi desde 2014.
Ainda em 2015, o governo do Novo Gales do Sul deu outro passo muito importante no combate ao fumo e aos seus malefícios – em especial, ao fumo passivo e à poluição tóxica que os tocos de cigarro disseminam no meioambiente. Fumar foi proibido em todos os parques nacionais e até mesmo dentro dos carros nas estradas que os atravessam.
Entre as motivações da nova lei, estão: reduzir o risco de incêndios acidentais; reduzir os efeitos do fumo passivo, especialmente em áreas de grande concentração de visitantes; e reduzir a disseminação de substâncias químicas perigosas presentes no cigarro – como arsênico e chumbo – no meioambiente.
É bom lembrar que os tocos de cigarro contêm mais de 4.000 substâncias químicas, entre as quais 43 cancerígenas, como a amônia, o dióxido de nitrogênio, o formaldeído, o cianeto de hidrogênio e o arsênico.
Não é para se tirar a liberdade individual de ninguém que tais políticas são colocadas em prática, mas sim como medida de incremento da saúde da coletividade, da qual faz parte, também, o zelo pelo meioambiente. Os fumantes podem continuar a fumar em muitos outros locais. Só precisam entender que o fumo está em clara contradição com os parques, com a saúde pública e com o respeito do meioambiente. A proibição de fumar nos parques, assim como em muitos outros lugares, não é um atentado à liberdade individual dos fumantes, mas sim uma oportunidade que se lhes dá de contribuir para o bem da coletividade, da qual, quer queira quer não, eles fazem parte.
Leia sobre as leis antifumo de Mosman: (http://www.mosman.nsw.gov.au/community/safety-and-wellbeing/smoke-free/)
Leia sobre a proibição de fumar nos parques nacionais do Novo Gales do Sul: http://www.nationalparks.nsw.gov.au/safety/no-smoking-in-national-parks
Leia sobre a proibição de fumar em muitas áreas ao ar livre na Austrália: http://www.tobaccoinaustralia.org.au/chapter-15-smokefree-environment/15-5-outdoor-areas
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