Não, não há suficientes áreas verdes em São Paulo. Muito pelo contrário!

Na semana passada, fizemos uma enquete na nossa página do Facebook perguntando aos leitores se havia suficientes áreas verdes na cidade de São Paulo. A adesão à enquete foi grande, mais de 1.800 votos, e a maioria esmagadora – 94%  – respondeu que não.

O Parque Ibirapuera, uma das principais áreas verdes de São Paulo, encontra-se no Distrito de Vila Mariana. Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas (21/08/2015).

Esse resultado precisa ser analisado. Uma olhada nos dados estatísticos relativos às áreas verdes por habitante – no município e não em toda a área metropolitana – revela que, em 2017, São Paulo possuía 16,5 m² de verde por habitante, número ligeiramente acima do mínimo recomendado pela OMS/Organização Mundial da Saúde. No entando, esse número era inferior ao de 2016, que apontava 16,8 m² de verde por habitante, indicando uma tendência decrescente, que contraria a tendência constante de aumento verficada no período de 2011 a 2016.

Veja os indicadores de 2008 a 2017 aqui.

Porém, se nos limitamos a esses dados, corremos o risco de crer que está tudo bem quando, na verdade, não está. Aliás, a aridez e a falta de áreas verdes na cidade predominam, o que explica o resultado obtido na nossa enquete. A porcentagem expressa mas estatísticas não reflete uma questão fundamental: a concentração de verde em algumas poucas áreas e a sua ausência quase total em muitas outras. Um exemplo desse descompasso é a presença de 502 m² de área verde por habitante em Parelheiros, no extremo sul da cidade, enquanto a Cidade Ademar conta com um irrisório 0,76 m² de verde por pessoa.

O verde se concentra no extremo sul e no extremo norte do município, em áreas que têm mais características de zona rural do que de cidade. O Parque Estadual da Cantareira e o Horto Florestal ficam no extremo norte da cidade, em Jaçanã/Tremembé e, apesar de entrarem na computação das estatíticas de metros quadrados de área verde por habitante, é bastante difícil considerá-los área verde urbana.

Veja quais são os distritos com mais áreas verdes clicando aqui.

Pode causar surpresa o fato de o Distrito de Vila Mariana, onde se encontra o Parque Ibirapuera, estar entre as áreas com menor (e insuficiente) cobertura vegetal –, entre as quais também se encontram a Mooca e a região central da Sé. Nesses distritos há amplas, intermináveis zonas áridas e, por isso mesmo, insalubres.

Tudo isso confirma o resultado da enquete: não se trata de simples impressão, mas de um fato. Quando, às veses, dizemos que o Parque Ibirapuera é minúsculo para o tamanho da necessidade de verde que temos em São Paulo, não é um exagero, é uma constatação baseada na análise dos dados.

Limitar-se simplesmente à fórmula genérica m²/habitante é como falar de renda per capita dividindo o Produto Nacional Bruto pelo número de habitantes do país, sem levar em consideração a enorme concentração de renda que existe e as disparidades sociais que ela causa, além das enormes diferenças regionais. Quando entramos nos detalhes, nos damos conta de que a estatística geral camufla a realidade.

Não, não há suficientes áreas verdes em São Paulo. Muito pelo contrário!

Posts relacionados

FOLHAS NO QUINTAL

A beleza dos parques de São Paulo

Cemitério ou parque? Os dois!