A história da associação dissolvida Parque Ibirapuera Conservação
Durante os mais de 60 anos de história no Ibirapuera, o parque passou por mudanças e recorrentes ciclos de dificuldade de investimento na manutenção e restauração de suas áreas verdes. Em 2010, a partir das reuniões do Conselho Gestor do Parque Ibirapuera, um grupo de usuários e conselheiros determinados e insatisfeitos com esta dinâmica resolveu plantar uma semente e trabalhar por melhorias estruturais. O desafio: implementar uma boa governança, melhorar a gestão e engajar inúmeras pessoas determinadas a transformar o parque em um ambiente limpo, seguro e bonito.
O grupo começou a pesquisar e trabalhar em alternativas de gestão mundo afora que melhor se enquadraria na realidade paulistana. O solução precisava ser de interesse público, mas ter gestão mais ágil e eficaz para identificar, preservar e melhorar os ativos e áreas naturais, históricas e culturais do parque. Assim nasceu o Parque Ibirapuera Conservação, um grupo focado tanto na recuperação como em desenvolver uma estrutura capaz de evitar declínios futuros, estruturando projetos de melhorias para o Ibirapuera e de áreas verdes urbanas, como também gerando receitas acessórias inteiramente investidas no engajamento, sensibilização e cuidado destes espaços. Veja seleção de fotos.
Cronologia
2010 – União de voluntários e membros do Conselho Gestor do Parque Ibirapuera aprovam em reunião ordinária a colaboração para criação de um portal de informação para fomentar governança e informação entre conselheiros e usuários.
2011 – Movimento fortalece com adesão da primeira centena de voluntários cadastrados. O movimento entra firme nas redes sociais e desvincula do Conselho Gestor para trabalhar mais ágil e independentemente. O portal cresce, toma formato de revista disponibilizando login para equipamentos do parque divulgarem programação atualizada e se consolida na internet.
2012 – Começam os encontros em hotéis e discussão na casa de simpatizantes sobre as possibilidades de transformar a plataforma virtual em uma organização pioneira de suporte ao parque. O movimento cresce e promove o primeiro seminário onde é debatido estudos de casos de organizações privadas e sem fins lucrativos, como também os principais entraves públicos para melhoria e captação de investimentos necessários para o parque.
2013 – O movimento comunitário começa a colaborar com a prefeitura, disponibilizando dezenas de voluntários uniformizados para distribuição de mudas e informações no parque. A iniciativa fortalece e também os encontros/seminários que ultrapassam meia dúzia no ano. Fica decidido que o movimento esta pronto para o próximo passo e começa a busca por um projeto maior para unir as pessoas e materializar o começo da transformação do parque. Com as redes sociais e site na internet da movimento alcança muita visibilidade e pelo segundo ano seguido o portal ultrapassa 1 milhão de visitas.
2014 – Fundação da associação Parque Ibirapuera Conservação (PIC) como uma organização da sociedade civil que consolida iniciativas difusas e assina Termo de Parceria com a prefeitura para cuidar do Bosque da Leitura, fruto de uma portaria intersecretarial entre Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente e Secretária Municipal da Cultura.
Começam os programas de educação ambiental, mutirão de limpeza, pinturas de áreas nas áreas do parque junto a prefeitura. A campanha Ibira Amo e Cuido de doação e consolidação dos amigos do parque, e o PIC se estrutura financeiramente e aprova nos órgãos competentes projetos e para a primeira obra de restauração.
2015 – O PIC planeja, capta e executa a restauração do Bosque da Leitura investindo centenas de milhares de reais na restauração entre doação de serviços, bens e recursos.
Na inauguração junto a secretários da cultura e do verde e meio ambiente o PIC entrega mais duas propostas: estudos para limpeza do lago, elaborado junto a equipe de pesquisa e laboratório da USP e a restauração dos banheiros e melhoria das pistas da cerca.
PIC recebe título de OSCIP, sinalizando intenção de futura parceria para contribuir ainda mais com o parque.
PIC é eleito titular no Conselho Gestor do Parque por organizações da sociedade civil e ajuda a eleger inúmeros outros representante dos usuários simpatizantes a causa de cuidado do Ibirapuera e áreas verdes urbanas.
2016 – PIC investe em jardins verticais e irrigação no parque. PIC multiplica ações de zeladoria no parque e começa campanha por transformação no cuidado de áreas públicas. PIC ganha notoriedade e começa a encontrar dificuldade em aparente jogo político, com fogo cruzado, em véspera de eleição. PIC explica o momento embrionário da organização e o caminho para ganhar a estatura necessária para um movimento mais audacioso de desoneração municipal e multiplicação da iniciativa de forma independente cidade e pais afora, mas avalia que sociedade civil só terá força para propor até consolidar mais melhorias concretas e de interesse público.
PIC leva a conhecimento da SP Negócios, empresa mista da prefeitura dedicada a fomentar colaboração junto aos privados, sobre os distintos modelos de colaboração de parques, desoneração da prefeitura e governança cidadã. PIC mostra interesse em seguir fazendo investimento de capital no parque como fizeram organizações da sociedade civil dedicadas a parques Brasil afora, mas a dificuldade só aumenta.
2017 – PIC leva 500 voluntários para o parque na décima quarta edição de mutirão limpeza para pintar, plantar e limpar o parque com apoio da prefeitura. Prefeitura recém eleita se espelha no PIC para ganhar notoriedade em ações cidadã de cidadania, faz muito barulho, não se preocupa com a forma e continuidade e enfraquece o momento.
PIC segue adiante e apresenta projeto de restauração da fonte da praça Burle Marx, pergolado e bancos. PIC faz festival de teatro, contação de história e cinema no parque tratando de questões de conservação e interesse público. PIC compra dezenas de espreguiçadeiras para uso público no parque e fomenta atividades de criança com a natureza e de integração e assistência comunitária.
PIC reapresenta proposta de investimento de 29 milhões de reais em melhorias para serem entregues em 3 anos, mas prefeitura rejeita buscando um projeto que a desonere por completo no parque no curto prazo, sem ligar governança no uso e gestão do parque, deixando espaço para reequilíbrio econômico financeiro, ou seja, cobrança da conta no futuro. Prefeitura opta em buscar modelagem de mercado para empresas assumirem o parque.
2018-19 – A associação vislumbra seu fim e trabalha intensamente em garantir um plano diretor para o parque, causa máxima desde sua fundação, mas que só ganhou espaço em discussão judicial; e assim promove encontros com técnicos e especialistas no Ibirapuera para assegurar divulgação de conhecimento da função do parque de forma a proteger seu futuro.
2020 – O PIC é dissolvido, a associação acaba por completo, mas deixa um vácuo social para que eventuais novos e difusas iniciativas possam surgir nas próximas décadas, cada qual no seu ângulo e realidade, seja por exemplo no cuidado da flora, no olhar para os rios urbanos ou das crianças na natureza.