Uma história de amor entre uma mãe, seu filho pequeno e um viveiro de plantas. Não um viveiro qualquer, mas o Manequinho Lopes, do Parque Ibirapuera.
Ainda antes que o Parque Ibirapuera fosse criado, o viveiro municipal existente na Água Branca já tinha sido transferido para essa área, que recebeu, também, uma estufa quente vinda do Parque da Luz, o mais antigo parque da cidade de São Paulo. Isso ocorria em 1928 e, em 1933, já com a ideia de se criar o parque na área, o viveiro correu o risco de ser retirado do local. Porém, graças à insistência de Manoel Lopes de Oliveira Filho, o então diretor da Divisão de Matas, Parques e Jardins – o equivalente da atual Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente –, o viveiro foi mantido no local e tornou-se definitivo. Em 1938, Manoel Lopes, o Manequinho Lopes, morre e o viveiro recebe o seu nome.
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Hoje, assim como todo o Parque Ibirapuera, inaugurado duas décadas mais tarde, o Viveiro Manequinho Lopes está tombado – o que significa que as suas instalações e áreas verdes estão protegidas por lei. Ainda que a sua boa ou má manutenção dependa das oscilações das políticas administrativas.
Quando bem cuidado e objeto das atenções da administração municipal, o Manequinho Lopes – como é chamado afetuosamente, quase como se encarnasse a pessoa que lhe deu forma e o defendeu – é um encanto. Um lugar de grande paz e de estupor. As sua estufas e canteiros pululam de flores e mudas destinadas ao verde público, aos parques, praças e ruas da cidade. Um ceboleiro quase centenário mora no seu perímetro e estende o seu surpreendente assoalho formado de raízes ao redor, para o encanto dos visitantes.
Sim, é um lugar de encanto e de aprendizagem. Nele, através do encanto, aprende-se a conhecer as plantas e a amá-las. E ninguém sabia mais disso do que uma jovem mãe e seu filho. Todos os fins de semana, eles estavam no Manequinho Lopes, entre canteiros e estufas, a se surpreender com as formas e cores das suas plantas e flores, a tecer histórias e arquitetar desenhos. Essa jovem mãe se chama Cecília Monte Alegre e seu energético e entusiástico filho, Pedro. Um dia, por causa desse viveiro e da felicidade que ele inspirava, Pedro exclama: “Mamãe, quero ser jardineiro!”.
Não sei você, leitor, mas, num mundo onde o desprezo pelo verde é tão grande quanto a necessidade que temos dele, acho a expressão desse desejo de uma profundidade comovente. Pode ser que Pedro não se torne um jardineiro, mas, com certeza, tem germinada dentro de si a semente do amor pelas plantas. Um amor favorecido por um viveiro, que, há mais de oitenta anos, foi criado e defendido com amor e ao qual uma mãe amorosa e paciente levou o filho todos os sábados de manhã.
Por isso, entendemos plenamente porque, depois de encontrar um dia a porta do viveiro fechada e constatar o estado de abandono em que ele caiu, essa mãe costuma dizer: “cada vez que citam o viveiro, o meu coração chora de tristeza”. A sua história de amor e do seu filho com o viveiro foi brutalmente interrompida e, dessa forma, outras mães igualmente amorosas não poderão plantar a semente do amor pelo verde nos filhos com a ajuda de um lindo viveiro, se este não for reativado completamente e o seu acesso, plenamente reaberto às famílias.
Sobre Cecília Monte Alegre: paulistana e formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, é desenhista e designer de moda. Sabemos que escreveu e ilustrou um livro, ainda inédito, sobre a sua história de amor e de Pedro com o Viveiro Manequinho Lopes – e que esperamos poder ver em breve.