O que nos ensina um simples passeio no charmoso Bryant Park de Nova York – não fumar – e que poderíamos pôr em prática em São Paulo
Sempre que posso, quando de Connecticut, onde moro, vou a New York, passo pelo Bryant Park, um pequeno parque entre a 5.ª Avenida e a Avenida das Américas, bem atrás da New York Public Library e não longe da Times Square. Ele é encantador em qualquer estação do ano. Naquele dia, no mês de junho de 2011, eu estava na cidade para ver uma nova produção do musical Anything Goes, de Cole Porter.
Não deixei de ir ao Bryant Park para, entre outras coisas, tomar um brunch no Bryant Park Grill, lugar agradabilíssimo. Se me lembro bem, já tinham colocado a tela gigante no gramado central para a projeção de filmes nas noites quentes e abafadas do verão novaiorquino. Com certeza, os canteiros e os grandes vasos ornamentais ao logo das suas alamedas estavam pululando de flores.
O Stephen Sondheim Theatre, onde Anything Goes estava em cartaz, fica a dois quarteirões dali. O musical foi fantástico. Saí cantarolando “Anything Goes” and “Blow, Gabriel, Blow” pelas ruas, ensaiando timidamente o vibrante número de sapateado – difícil ficar parado na poltrona quando ele se desenrola no palco! E assim foi o caminho todo, até a Central Station, no trem para Stamford, onde ia pegar o carro e, finalmente, voltar para casa – exausto!
Mas a maior surpresa do dia não foi o musical. Foi uma placa na entrada do Bryant Park, nunca vista anteriormente: “Smell Flowers, Not Smoke” (cheire flores, não fumaça). Me aproximo da novidade e leio:
É proibido por lei fumar nos parques públicos de Nova York, a partir de 23 de maio de 2011. Por favor, apague os cigarros em recipientes fora do parque antes de entrar; telefone para 311 se precisar de ajuda para parar de fumar. O prefeito Michael Bloomberg assinou a lei no começo de 2011 para limitar a exposição ao fumo passivo, melhorar a qualidade do ar e reduzir o lixo. (Tradução do texto da imagem ao lado.)
Não sou um ativista fundamentalista antifumo, mas sempre me preocupou muito a questão do fumo passivo e sempre achei que a “liberdade de fumar” colide com o direito de se respirar um ar puro. O fumante se esquece constantemente de que a sua liberdade restringe a liberdade do não fumante. Como resolver esse impasse? Além disso, não é uma contradição fumar num parque, que, teoricamente, é um lugar dedicado ao contato com a natureza e à saúde dos cidadãos?
Naquele dia, vi uma segurança do parque advertindo gentilmente um frequentador de que não era mais possível fumar ali; e, exercendo a minha cidadania, fiz o mesmo com um incauto fumante que ainda não sabia da nova lei…
Não creio que para o fumante – e para o bem de todos – seja um sacrifício assim tão grande ficar sem fumar por poucas horas, enquanto se encontra num parque. Isso deveria fazer parte do ritual de ir a um parque. Pois bem, em Nova York, ele não pode mais fumar nos parques públicos. O mundo não desabou e nem houve rios de polêmicas sobre o assunto no New York Times ou nas tevês locais. Depois de alguns anos, não fumar nos parques públicos virou parte do hábito dos novaiorquinos.
O que acontece nos parques públicos de São Paulo? Antes de a lei nacional antifumo ser promulgada em 2014, São Paulo já tinha a sua há algum tempo, que era restrita a áreas públicas fechadas e semifechadas. A legislação deixa claro, porém, que é permitido fumar em áreas livres como parques. Entretanto, a administração do Parque Ibirapuera proibiu que se fumasse debaixo da Marquise, por ser uma área semifechada – caso em que a lei, por liberar o fumo em parques, não é clara.
A recente lei nacional antifumo estabelece que é proibido fumar em lugares parcialmente fechados por parede, teto ou toldo. Isso reforça a decisão de 2009 da adminstração do Parque Ibirapuera de proibir o fumo na Marquise. Infelizmente, as leis não foram mais longe e não estenderam a proibição a todas as áreas dos parques, semicobertas ou não. Assim, permanece o problema do fumo passivo num lugar onde as pessoas deveriam estar livres disso; não se contribui para a melhoria da qualidade do ar, que deveria ser um dos objetivos dos parques públicos; e não se reduz a quantidade de lixo, do qual os tocos de cigarro são uma parte consistente.
Na espera de uma lei que proíba o fumo nos parques e nos devolva o cheiro das flores, que tal uma campanha para pedir às pessoas que não fumem no Parque Ibirapuera? Essa seria, também, uma forma delas voluntariarem para a melhoria do parque e para a saúde pública, um pequeno sacrifício para o bem da coletividade.