Na semana passada, fizemos uma enquete na nossa página do Facebook perguntando aos leitores se havia suficientes áreas verdes na cidade de São Paulo. A adesão à enquete foi grande, mais de 1.800 votos, e a maioria esmagadora – 94% – respondeu que não.
Esse resultado precisa ser analisado. Uma olhada nos dados estatísticos relativos às áreas verdes por habitante – no município e não em toda a área metropolitana – revela que, em 2017, São Paulo possuía 16,5 m² de verde por habitante, número ligeiramente acima do mínimo recomendado pela OMS/Organização Mundial da Saúde. No entando, esse número era inferior ao de 2016, que apontava 16,8 m² de verde por habitante, indicando uma tendência decrescente, que contraria a tendência constante de aumento verficada no período de 2011 a 2016.
Veja os indicadores de 2008 a 2017 aqui.
Porém, se nos limitamos a esses dados, corremos o risco de crer que está tudo bem quando, na verdade, não está. Aliás, a aridez e a falta de áreas verdes na cidade predominam, o que explica o resultado obtido na nossa enquete. A porcentagem expressa mas estatísticas não reflete uma questão fundamental: a concentração de verde em algumas poucas áreas e a sua ausência quase total em muitas outras. Um exemplo desse descompasso é a presença de 502 m² de área verde por habitante em Parelheiros, no extremo sul da cidade, enquanto a Cidade Ademar conta com um irrisório 0,76 m² de verde por pessoa.
O verde se concentra no extremo sul e no extremo norte do município, em áreas que têm mais características de zona rural do que de cidade. O Parque Estadual da Cantareira e o Horto Florestal ficam no extremo norte da cidade, em Jaçanã/Tremembé e, apesar de entrarem na computação das estatíticas de metros quadrados de área verde por habitante, é bastante difícil considerá-los área verde urbana.
Veja quais são os distritos com mais áreas verdes clicando aqui.
Pode causar surpresa o fato de o Distrito de Vila Mariana, onde se encontra o Parque Ibirapuera, estar entre as áreas com menor (e insuficiente) cobertura vegetal –, entre as quais também se encontram a Mooca e a região central da Sé. Nesses distritos há amplas, intermináveis zonas áridas e, por isso mesmo, insalubres.
Tudo isso confirma o resultado da enquete: não se trata de simples impressão, mas de um fato. Quando, às veses, dizemos que o Parque Ibirapuera é minúsculo para o tamanho da necessidade de verde que temos em São Paulo, não é um exagero, é uma constatação baseada na análise dos dados.
Limitar-se simplesmente à fórmula genérica m²/habitante é como falar de renda per capita dividindo o Produto Nacional Bruto pelo número de habitantes do país, sem levar em consideração a enorme concentração de renda que existe e as disparidades sociais que ela causa, além das enormes diferenças regionais. Quando entramos nos detalhes, nos damos conta de que a estatística geral camufla a realidade.