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Passeio com música no Ibirapuera I

por Roberto Carvalho de Magalhães
Que tal reviver um pouco da música – e do clima cultural – da época em que o Parque Ibirapuera foi criado? Experimente escutá-la durante a sua corrida ou passeio no Parque.

A criação do Parque Ibirapuera na década de 1950 está, sem dúvida, ligada ao fermento econônico e à consolidação da sociedade urbana no Brasil, especialmente em São Paulo. É um momento de otimismo, de expansão econômica e cultural, que vê a afirmação de uma linguagem arquitetônica e paesagística nacional. Experimentada no projeto do Ibirapuera, ela culmina com a criação de Brasília.

Vista aérea do Parque Ibirapuera de 1954 (extraída da Revista Manchete).

Vista aérea do Parque Ibirapuera de 1954 (extraída da Revista Manchete).

O fermento, porém, não se limita à arquitetura e ao urbanismo. Vai muito além. Ocorre na literatura – lembremos, entre outras realizações, a criação da revista Noigrandes por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari, e o nascimento da poesia concreta. Nas artes, além do Masp, criado em 1947, nascem os museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro; e, em 1951, ocorre a primeira Bienal de Artes de São Paulo, instituição extremamente vigorosa até hoje e que forneceu a costela de Adão para o nascimento do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP).

Pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera em uma fotografia da década de 1950.

Pavilhão da Bienal do Parque Ibirapuera em uma fotografia da década de 1950.

É nos anos de 1950 que toma corpo a obra original de Alfredo Volpi, com as suas bandeiras e mastros de festas juninas, numa espécie de ambiguidade entre pintura figurativa e abstrata, e nasce o Grupo Ruptura, que promoveu a primeira exposição de arte concreta (1952).

Alfredo Volpi, “Bandeirinhas”, 1950.

Alfredo Volpi, “Bandeirinhas”, 1950.

E o que acontece na música – popular e erudita? É aqui que entra a nossa proposta. Queremos, através de uma série de postagens, propor a audição de músicas populares e eruditas – canções, sinfonias, concertos – para acompanhá-lo(a) na sua visita ao Parque Ibirapuera, como uma maneira de reviver o clima da época em que o parque foi criado.

Um dos marcos históricos da música popular brasileira, a Bossa Nova, nasce na segunda metade da década de 1950 e se propaga, rapidamente, da zona sul do Rio de Janeiro por todo o Brasil, tendo entre os seus maiores expoentes João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Logo, a Bossa Nova iria atravessar as fronteiras internacionais. Canções como Chega de saudade (1959) e Garota de Ipanema (1962) seriam gravadas por mais de cem artistas nacionais e internacionais.

Capa original do LP Chega de Saudade, de 1959.

Capa original do LP Chega de Saudade, de 1959.

Que tal dar o primeiro passeio com música no Ibirapuera escutando o álbum de estréia de João Gilberto, Chega de saudade, gravado em 1959? Ouça aqui.

Do álbum, fazia parte a canção Desafinado, de Tom Jobim e Newton Mendonça. Lançada no ano anterior em um single, como resposta aos críticos que consideravam a bossa nova música para cantores desafinados, foi gravada novamente por João Gilberto em 1963, em uma parceria inesquecível com o saxofonista americano Stan Getz.

Compare a versão original de Desafinado com a da parceria entre João Gilberto e Stan Getz aqui.

Se você tiver a oportunidade de visitar o Parque Ibirapuera acompanhado(a) por essas canções, deixe aqui as suas impressões. Bom passeio!

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