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Passeio com música no Ibirapuera II

por Roberto Carvalho de Magalhães

Um passeio no parque ritmado pelos movimentos de obras sinfônicas? Eis aqui uma sugestão: duas obras de Mozart Camargo Guarnieri, compostas na época em que o Parque Ibirapuera foi criado.

Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

A inauguração do Parque Ibirapuera ocorreu em 1954, ano do IV Centenário de São Paulo. Entre as iniciativas para se comemorar os quatrocentos anos da cidade, o Departamento Municipal de Cultura organizou um concurso de obras sinfônicas. Na ocasião, o compositor paulista Mozart Camargo Guarnieri, nascido na cidade de Tietê em 1907, criou e enviou a sua Sinfonia n.º 3. A obra foi a primeira colocada do concurso.

Brasão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, anos 1950 (fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.127/3696)

Brasão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, anos 1950 (fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.127/3696)

Na Sinfonia n.º 3, Camargo Guarnieri cruza elementos indígenas com a forma sinfônica clássica em três movimentos, que seguem o esquema tradicional da apresentação de um tema, desenvolvimento, variações e volta ao tema. Na sua busca por uma forma musical com características nacionais, o compositor recorre a uma melodia indígena, o teiru, já usada por Heitor Villa-Lobos quase vinte anos antes.

Nesse mesmo ano, a Orquestra Sinfônica de Louisville, Estados Unidos, encomenda uma obra ao compositor: nasce a Suíte IV Centenário, apresentada em São Paulo pela primeira vez em maio de 1955. Trata-se de uma peça sinfônica constituída por cinco partes: I.Introdução, II.Toada, III.Interlúdio, IV.Acalanto e V.Baião. Em cada uma delas, emergem os motivos musicais “brasileiros”, sem que a suíte seja, porém, uma simples reprodução de temas folclóricos. A Toada, por exemplo, se baseia na estrutura típica da toada paulista, enquanto o Interlúdio usa o ritmo da embolada brasileira e o Baião – é quase supérfluo dizer – remete à dança típica do nordeste brasileiro.

Mozart Camargo Guarnieri em uma fotografia de 1973 (Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros, USP, Coleção Camargo Guarnieri)

Mozart Camargo Guarnieri em uma fotografia de 1973 (Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros, USP, Coleção Camargo Guarnieri)

O mesmo uso de material inspirado em motivos melódicos e rítmicos nacionais reaparece numa obra de 1956, o vibrante Choro para piano e orquestra, como, de resto, em grande parte da vasta produção de Camargo Guarnieri.

Propomos, para um passeio com música no Parque Ibirapuera no tempo da sua criação, a Suíte IV Centenário e o Choro para piano e orquestra, que você pode ouvir aqui. A primeira peça, executada pela Louisville Orchestra, numa gravação de 1956, e a segunda, com a Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina e Caio Pagano ao piano. Boa caminhada!

Leia (e ouça) mais sobre Camargo Guarnieri aqui.

Nota: Inicialmente, tínhamos previsto a audição da Sinfonia n.º 3 de Camargo Guarnieri, vencedora do concurso comemorativo do IV Centenário, como descrito acima. Porém, repentinamente, a única versão disponível em YouTube se tornou indisponível. De qualquer forma, para quem se interessar e quiser procurá-la, trata-se da esplêndida versão da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo/Osesp, sob a regência de John Neschling. Assim que esta ou outra versão estiver disponível, será com prazer que publicaremos o texo a ela dedicado e o link para a escuta.

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