Além do seu inestimável valor ambiental, o Parque Ibirapuera é um dos lugares em que São Paulo revela a sua melhor identidade – lugar de natureza, convivência, beleza, saúde e cultura. Essa identidade deve ser defendida a qualquer custo.
Entre os marcos da cidade de Paris, estão a famosa Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e… os jardins das Tuileries e do Luxembourg. A experiência da cidade não é completa se não passamos pelas suas alamedas compactamente arborizadas, gramados e canteiros coloridos. Eles fazem parte da história e da vida parisienses e seria difícil imaginar a cidade sem eles e muitos outros parque e jardins.
Os marcos da cidade de Nova Iorque são, entre outros, o Empire State Building, a Ponte de Brooklyn e… o Central Park. Aqui, também não se tem uma experiência completa da cidade se não se dá um passeio pelo imenso parque, ponto de encontro e convivência dos novaiorquinos de todas as categorias sociais. O mesmo pode-se dizer do Bryant Park, muito menor, mas nem por isso menos importante para a identidade de Nova Iorque.
E quais são os marcos da cidade de São Paulo? A Avenida Paulista, o Masp e… o Parque Ibirapuera! São esses lugares, entre outros, que compõem a identidade da cidade, lugares em que os paulistanos se reconhecem, se sentem em casa e que, por isso mesmo, os visitantes apreciam. A sua arquitetura, os seus recantos, as suas árvores e jardins internos são um espaço de convivência do qual cada cidadão sente fazer parte. É por isso que tudo o que diz respeito ao parque desperta paixões e debates acirrados.
No entanto, deveria ser um consenso que no Parque Ibirapuera não se toca, que o seu caráter deve ser preservado integralmente, pois ele é parte da história de cada um de nós, cidadãos de São Paulo e do Brasil. O que aconteceria se, amanhã, um projeto de concessão do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, prevesse cortar o topo do morro mais alto ou aplainar o morro inferior para se criar um anfiteatro? Por mais interessante ou esdrúxula que essa ideia possa parecer, a sua transformação afetaria a cidade toda, priva-la-ia de um dos seus grandes símbolos e de uma peça fundamental da sua identidade.
O mesmo podemos dizer do Parque Ibirapuera: se algo tem que melhorar é o que já existe. Não precisamos de novas estruturas mirabolantes no parque, mas de bons serviços que se encaixem no seu perfil histórico e não em detrimento dele. O Parque Ibirapuera é excelente, além de ser um marco histórico, e não requer transformações na sua essência. Exatamente por isso, foi tombado em três instâncias diferentes: pelo Condephaat, órgão de preservação do Estado de São Paulo; pelo Conpresp, órgão de preservação histórico-arquitetônica da Prefeitura de São Paulo; e pelo Iphan, órgão federal, cuja decisão de tombamento se limita aos prédios e estruturas projetados por Oscar Niemeyer.
Se bem informado, temos certeza de que o paulistano não quer um parque desnaturado na sua história, no seu paisagismo e na sua função, mas sim um parque limpo, mais seguro e com melhores serviços. A ideia de concessão como foi formulada pela atual administração da cidade dá a impressão de que tudo ou quase tudo pode ser mudado, desnaturando a função do parque e colocando em risco a sua identidade e o seu significado para a cidadania. É por isso que o primeiro passo na direção de um novo modelo de administração deve ser um Plano Diretor rigoroso, que defina com clareza os limites dentro dos quais qualquer gestão, seja ela privada ou pública, pode atuar.
A nossa convicção é que o melhor modelo é o da parceria com uma organização da sociedade civil sem fim de lucro. Esse é o modelo que tornou os grandes parques urbanos ao redor do mundo a maravilha que sempre admiramos quando os visitamos. A concessão a empresa com fim de lucro é, ao contrário, a receita para uma catástrofe e para a descaracterização do parque.