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Lixo no parque. Reflexões com a ajuda do cineasta italiano Ermanno Olmi

por Roberto Carvalho de Magalhães

O que passa pela mente de quem joga lixo no chão, não só no Parque Ibirapuera? “Ah, os garis vão limpar! Não tem lixeira aqui perto, é culpa da Prefeitura!” Ou, talvez, seja somente um ato irrefletido, um costume, um gesto automático? Como quer que seja, quais são as consequências de tal ato?

São muitas as reclamações no Facebook de pessoas icomodadas, compreensivelmente, com a sujeira no Parque Ibirapuera, especialmente depois dos fins-de-semana e de comemorações. Essa é uma das preocupações do Parque Ibirapuera Conservação, que organiza periodicamente os mutirões de limpeza, com a participação de um número cada vez maior de voluntários. A fotografia acima, publicada neste site por Michel Friedhofer, há alguns meses (http://parqueibirapuera.org/lidando-sem-briga-com-quem-joga-lixo-no-chao/), mostra uma situação alarmante.

A opinião de Ermanno Olmi

Muitos anos atrás, durante uma entrevista à televisão italiana, o grande cineasta Ermanno Olmi, que alguns lembrarão como diretor do filme A árvore dos tamancos, declarou que “jogar lixo no chão deveria ser considerado crime punível por lei severamente, pois quem o faz está afetando negativamente toda a sociedade”.

O cineasta Ermanno Olmi durante uma apariç  O cineasta Ermanno Olmi durante uma aparição no Festival de Veneza em 2011.

Os custos da sujeira   

No convívio social. Examinemos o caso dos banheiros públicos em geral. Quem vai a um deles desejaria encontrar tudo perfeitamente limpo – o que é normal. E por que, então, muita gente, quando os utiliza, não os deixa limpos para o próximo usuário? A consequência, para os outros, é a dificuldade de uso de um serviço que deveriam acessar sem problemas ou desgosto. Esse é um caso típico de irresponsabilidade social: o bem-estar do outro não entra nas preocupações do um. Esse é um motivo – e consequência –, entre tantos outros, de falta de coesão social. O indivíduo, muitas vezes, esquece que o bom funcionamento do coletivo, do qual ele próprio usufrui, depende dele também. A mesma coisa pode ser dita do lixo atirado no chão.

No plano econômico. Certamente, a limpeza está entre as responsabilidades da administração do Parque. Mas é uma responsabilidade exclusivamente dela? Absolutamente não. Os usuários têm que fazer a sua parte, não jogando lixo no chão, não poluindo. Um acúmulo de sujeira muito grande e constante requer uma mobilização de pessoal e de recursos também muito grande, recursos que poderiam ser utilizados em outras ações de manutenção e de melhoria. Além disso, esses recursos vêm do bolso dos contribuintes, o que significa que cada lixo jogado no chão pela displicência de um indivíduo consome recursos a mais, pagos por todos nós e pelo próprio “sujador”.

No plano ambiental. Há, também, um custo ambiental menos visível no caso do parque: o efeito que o lixo tem nos animais. Já foi amplamente documentada a ação nefasta do plástico na fauna marinha. Sabe-se que, todos os anos, um milhão de aves e mamíferos marinhos morrem sufocados por – ou por ter ingerido – plástico. O Parque Ibirapuera é um microcosmo do qual fazem parte uma grande variedade de aves – foram documentadas 113 espécies nativas – e ao menos 10 espécies de peixes, entre os quais carpas e tilápias. Quanto plástico em forma de fragmentos estarão ingerindo? Isso se soma à presença de metais pesados na água e de outros agentes poluentes que tornam a vida da fauna no parque muito difícil. 

Sabiá-laranjeira entre pétalas de ipê-rosa. Primavera (Foto: Roberto Carvalho de Magalhães)Sabiá-laranjeira entre pétalas de ipê-rosa. Primavera (Foto: Roberto Carvalho de Magalhães)

Veja as espécies de aves encontradas no Parque Ibirapuera: http://www.aultimaarcadenoe.com.br/aves-do-pq-do-ibirapuera-sp/

Veja estudo da USP sobre a presença de metais pesados nos peixes do Ibirapuera: http://www5.usp.br/34095/analise-de-peixes-pode-indicar-presenca-de-metais-pesados-nos-parques-ibirapuera-e-tiete/

O grande desafio é como fazer as pessoas entenderem tudo isso e mudarem de comportamento. Minha mãe tinha uma tática. Quando via alguém jogar no chão um papel de bala, um maço de cigarro vazio, etc., ela o recolhia, chegava perto da pessoa e lhe dizia com um sorriso irônico, enquanto lhe entregava o lixo: “Você deixou isso cair no chão”. Vi muitas faces ruborizadas na minha infância… Entretanto, essas são ações minúsculas, que não resolvem o grande problema. Enquanto isso, são os mutirões de limpeza que indicam o caminho, mostrando que o próprio usuário – ainda que sem ignorar a responsabilidade da Prefeitura – pode e precisa assumir o seu papel ativo na boa manutenção não só do Parque, mas também da sua cidade.

Pedido aos leitores: a limpeza do parque é uma das preocupações do Parque Ibirapuera Conservação. Estamos perfeitamente cientes do problema. Pedimos, portanto, que, nos comentários, ao invés de reclamações – ou só reclamações –, deixem sugestões para enfrentar esse desafio.

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